Xangri-lá realiza hoje às 17h, última audiência pública do novo plano diretor


O novo plano diretor proposto pela prefeitura de Xangri-lá causa preocupação em moradores de uma das principais praias do Litoral Norte, com pouco mais de 17 mil habitantes. 

O novo plano diretor prevê a construção de prédios de até 14 andares em ruas estratégicas da cidade, inclusive em áreas próximas à beira-mar. Hoje, os edifícios não podem ter mais do que sete pavimentos. 

Pela oitava e última vez, uma audiência pública marcada para as 17h desta quarta-feira (15), na Câmara de Vereadores, vai apresentar todas as alterações almejadas pelo Executivo e abrir debate com pessoas que são contrárias ao que chamam de verticalização da cidade. A expectativa é de que, ao fim do encontro, seja marcada a data para votação do projeto. 

De acordo com o prefeito, Celso Bassani Barbosa, o plano diretor autoriza prédios de até 14 andares ao longo de toda a Avenida Paraguassu, que é paralela ao mar, mas somente na porção em direção à cidade, além da Avenida Central, a Rua Rio Jacuí e a Avenida Diamante, no balneário de Rainha do Mar. 

Nessas três vias que levam até a orla de Xangri-lá, os empreendimentos só poderão ser erguidos até o limite com a Paraguassu, que fica a cinco quadras do mar. O prefeito garante que, da Avenida Paraguassu em diante, não haverá permissão. Para construir nesses locais, os terrenos precisam ter, no mínimo, um hectare. 

Mas há exceções, que atingem dois lugares emblemáticos de Xangri-lá, que mexem com a memória afetiva dos moradores: onde existia o Hotel Termas, na Rua Rio dos Sinos com a Rio Carreiro, e onde funcionava a colônia de férias do Banrisul, em toda a quadra entre as avenidas Rubi e Coral, ambos muito próximos da beira-mar. Nesses terrenos, também será permitida a construção de prédios com até 14 andares. 

Segundo o prefeito, o projeto foi cuidadosamente elaborado por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e sugeria a construção de prédios altos em locais onde hoje não há qualquer edifício, o que a prefeitura recusou. 

— Esse plano diretor tinha até a proposta de construção de prédios em volta de praças. Nós tiramos isso. Só vamos permitir prédios onde hoje tem prédios. Onde não tem prédio, não faremos prédios — diz o prefeito. 

Contudo, o projeto também autoriza a construção de condomínios ou loteamentos do outro lado da Estrada do Mar, à esquerda de quem vem de Tramandaí, urbanizando uma área que, até agora, é rural. Na avaliação do prefeito, o aumento da altura dos prédios vai expandir a economia de Xangri-lá, gerando mais empregos e renda.

— Com o município crescendo, vai gerar empregos e renda para os moradores fixos. Um prédio alto precisa de quantas pessoas para limpar, para fazer o jardim, a manutenção? Todo condomínio dá empregos para a comunidade — diz Barbosa.

Na última sexta-feira (10), moradores fizeram um ato de repúdio ao plano diretor, unindo as mãos ao redor do terreno onde funcionou o Hotel Termas. Eles acreditam que a prefeitura está cedendo a “interesses imobiliários” e investindo em um projeto que vai descaracterizar uma praia onde a tranquilidade e a natureza ainda são marcantes. Um abaixo-assinado online já recolheu mais 19 mil assinaturas.

A pedido de alguns moradores, o Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio Grande do Sul (IAB-RS) elaborou um relatório técnico apontando alguns detalhes que merecem atenção no plano diretor, e que podem ter impactos ambientais e também para a qualidade de vida da população. 

Segundo a copresidente da entidade, a arquiteta e urbanista Bruna Bermagaschi Tavares, o projeto, ao permitir condomínios na região da Estrada do Mar, tem uma clara intenção de atrair pessoas de fora, que podem pagar por moradias caras, em vez de garantir habitações adequadas para quem já reside no município. 

— Há uma contradição. O plano diretor se propõe a pensar em melhorar a vida dos habitantes de Xangri-lá, mas demonstra interesse no turismo e no investimento imobiliário. Isso não está sendo destinado para a população da cidade, aliás, há poucos pontos destinados a habitações para pessoas de baixa renda — diz.

Já a construção de prédios mais altos, ainda que delimitada a algumas áreas da cidade, pode abrir margem para que mais espaços passem a permitir esses empreendimentos, gerando, no futuro, uma orla totalmente verticalizada.

— No nosso entendimento, isso abre um precedente para que mais zonas sejam ampliadas e permitam esses prédios, causando uma verticalização da orla de Xangri-lá. Isso terá um impacto na paisagem da cidade. Além do mais, o plano deixa lacunas. É um plano que parece gritar a intenção de rendimento econômico — critica a representante do IAB-RS. 

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