Wassef confirma viagem aos EUA para comprar Rolex e devolver à União, mas nega ter feito ‘operação de resgate’ a mando de assessor de Bolsonaro
A compra, segundo o advogado, foi feita com dinheiro dele e foi declarado à Receita para atender a um pedido do TCU.
O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Frederick Wassef afirmou em entrevista coletiva nesta terça-feira (15) na capital paulista que viajou aos Estados Unidos e comprou o relógio Rolex. Mas negou ter feito “operação de resgate” a mando do ex-assessor de Bolsonaro.
Wassef havia afirmado ao blog da Andréia Sadi que nunca tinha visto o Rolex dado de presente a uma comitiva do ex-presidente em viagem ao Oriente Médio e que, segundo a Polícia Federal, foi vendido ilegalmente nos Estados Unidos pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid.
“Nada. Nunca vi esse relógio. Nunca vi joia nenhuma (…) Nunca na minha vida. Desafio a provarem isso. Falo e garanto”, afirmou Wassef na noite do domingo (13).
Na entrevista desta terça, Wassef disse que a viagem aos EUA já estava marcada e teria fins pessoais. A compra, segundo o advogado, foi feita com dinheiro dele, “do meu banco”.
“Usei do meu dinheiro para pagar o relógio. O meu objetivo quando comprei o relógio era cumprir decisão do Tribunal de Contas da União (TCU)”, mas não deu detalhes. Segundo ele, a compra foi declarada à Receita Federal.
“O governo do Brasil me deve R$ 300 mil”, afirma Wassef, enquanto mostra uma nota de compra no valor de US$ 49 mil. “Eu fiz o relógio chegar ao governo”, afirmou o advogado sem, no entanto, dizer o caminho feito pela joia para entrar no país.
Não foi citado quem o avisou sobre o relógio, mas ele afirmou que não foi um pedido que tenha partido de Bolsonaro nem de Cid.
Compra do relógio
À jornalista Andreia Sadi, na segunda (14), ele havia divulgado uma nota em que afirmou que “jamais neguei a compra ou afirmei que comprei”.
Porém, conforme mostrou o blog de Valdo Cruz na segunda (14), o nome de Wassef aparece no recibo da recompra de um relógio Rolex nos Estados Unidos. A Polícia Federal acredita que o recibo é uma “prova contundente” contra o advogado e vai chamá-lo para depor. A PF também vai investigar quem deu o dinheiro para que ele recomprasse o presente dado ao ex-presidente. Além disso, quer saber como ele recebeu os valores, se foi em espécie ou transferência bancária.
Nesta investigação, a PF vai ter a colaboração das autoridades dos Estados Unidos, o que vai facilitar levantar de quanto foi a venda e a recompra, em valor maior, além da forma de pagamento.
O relógio, que vale cerca de R$ 300 mil, foi recebido de presente em 2019. Em junho de 2022, foi vendido nos Estados Unidos por Cid, segundo a PF.
Após a existência do Rolex ser revelada, em março de 2023 assessores do ex-presidente colocaram em campo uma operação para reaver o relógio, e Wassef, segundo as investigações, viajou aos Estados Unidos para buscá-lo.
A PF identificou várias interações entre Wassef e Mauro Cid na época e, em 11 de março, Wassef embarcou para os Estados Unidos.
Em 14 de março, os dois conversaram novamente por WhatsApp. Cid perguntou: “E aí?” “Toquei solo agora”, respondeu Wassef, e enviou uma foto de dentro do avião.
Em 29 de março, segundo a PF, Wassef voltou ao Brasil com o Rolex e, em 2 de abril, entregou o relógio para Mauro Cid em São Paulo. Dois dias depois, a defesa de Bolsonaro devolveu o item à União.
“Uma coisa é a viagem que fiz para os EUA. Outra coisa é me acusar de organização criminosa e esquema de joia. É uma armação”, diz Wassef.
Wassef diz ter tido poucos contatos com Mauro Cid e que não tem relação ou amizade com o assessor de Bolsonaro.
“Nunca tomei choppinho. Zero. Era absolutamrnte formal. Conto na mão as vezes que falei com ele”, afirma. “Zero de qualquer outro tema ou assunto.”
Wassef também disse que não coloca a mão no fogo por ninguém, “[só] pela minha mãe”. Porém, destacou que a chance de Bolsonaro receber a joia é zero, e que não sabe responder se alguém faria tamanha operação sem consentimento do presidente.
O advogado afirma que só tomou conhecimento das joias no início deste ano, após ser procurado pela imprensa. “
“Eu disse que não sabia de nada, mas que eu ia ligar para Bolsonaro e retornava. Liguei, o presidente me disse: Fred, pode fazer uma nota, você vai ser o meu advogado nesse caso e falar em meu nome. E fizemos uma ligação: eu, Bolsonaro e Fabio Wajgarten, e Bolsonaro deu uma ordem: é o Fred, faça a nota e publique. Antes disso, não é que eu nunca vi nenhuma joia, nenhum presente”.
Operação resgate
O relatório da Polícia Federal na investigação sobre a venda ilegal de presentes oficiais dados à Presidência da República mostra que o advogado de Jair Bolsonaro Frederick Wassef e o ex-ajudante de ordens Mauro Barbosa Cid empreenderam uma “operação de resgate” para devolver joias, já vendidas, ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Em 15 de março, o TCU definiu prazo de cinco dias úteis para que Bolsonaro entregasse ao tribunal um kit com joias suíças da marca Chopard, em ouro branco, recebidas como presente do governo da Arábia Saudita em viagem oficial de 2019.
A entrega ao TCU era necessária porque itens de alto valor recebidos como presente oficial devem integrar o acervo da Presidência da República, ou seja, não são de titularidade do presidente que recebe.
Esses itens, segundo a investigação, já tinham sido vendidos em duas lojas diferentes nos Estados Unidos.
Segundo a PF, a “operação de resgate” foi dividida em duas etapas:
- o relógio Rolex Day-Date, vendido para a empresa Precision Watches, foi recuperado por Frederick Wassef em 14 de março, véspera da decisão do TCU, e “repatriado” em 29 de março;
- o restante das joias foi recuperado por Mauro Barbosa Cid em 27 de março, em uma loja em Miami.
Ainda segundo a PF, as duas partes do kit foram entregues a Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e tenente do Exército. Crivelatti também foi alvo da operação desta sexta-feira (11).
O kit foi entregue pela defesa de Jair Bolsonaro em uma agência bancária em Brasília, no dia 4 de abril.
O que diz Bolsonaro
Confira o que a defesa de Bolsonaro disse após a operação da PF, na sexta-feira (11):
“Sobre os fatos ventilados na data de hoje nos veículos de imprensa nacional, a defesa do Presidente Jair Bolsonaro voluntariamente e sem que houvesse sido instada, peticionou junto ao TCU — ainda em meados de março, p.p. —, requerendo o depósito dos itens naquela Corte, até final decisão sobre seu tratamento, o que de fato foi feito.
O Presidente Bolsonaro reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos, colocando à disposição do Poder Judiciário sua movimentação bancária.”
Confira a manifestação de Frederick Wassef sobre o caso, no domingo (13):
“Como advogado de Jair Messias Bolsonaro, venho informar que, mais uma vez, estou sofrendo uma campanha de fake news e mentiras de todos os tipos, além de informações contraditórias e fora de contexto. Fui acusado falsamente de ter um papel central em um suposto esquema de vendas de joias. Isso é calúnia que venho sofrendo e pura mentira. Total armação.
A primeira vez que tomei conhecimento da existência das joias foi no início deste ano de 2023 pela imprensa. Quando liguei para Jair Bolsonaro, ele me autorizou, como seu advogado, a dar entrevistas e fazer uma nota à imprensa. Antes disso, jamais soube da existência de joias ou quaisquer outros presentes recebidos. Nunca vendi nenhuma joia, ofereci ou tive posse. Nunca participei de nenhuma tratativa, nem auxiliei nenhuma venda, nem de forma direta nem indireta. Jamais participei ou ajudei de qualquer forma qualquer pessoa a realizar nenhuma negociação ou venda.
A Polícia Federal efetuou busca em minha residência no Morumbi, em São Paulo, e não encontrou nada de irregular ou ilegal, não tendo apreendido nenhum objeto, joias ou dinheiro. Fui exposto em toda televisão com graves mentiras e calúnias.”
Fonte: Globo.com
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