Soberania, clima, big techs e Palestina: veja principais pontos do discurso de Lula na ONU

Presidente brasileiro fez o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira, em Nova York, nos Estados Unidos. Lula iniciou sua fala com um recado duro contra os Estados Unidos e contra Bolsonaro, apesar de não mencionar nominalmente o ex-presidente brasileiro, os norte-americanos ou mesmo o presidente Donald Trump.
O representante brasileiro criticou as sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, por causa do processo contra Jair Bolsonaro, e disse que “não há pacificação com impunidade”. Afirmou que o Brasil, “mesmo sob ataque sem precedentes”, decidiu “resistir e defender sua democracia”. Também disse que a autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU) “está em xeque”
Ao longo de seu discurso o presidente tratou de temas como a soberania nacional, a defesa da democracia, as mudanças climáticas, a regulação das big techs e a situação do povo palestino sob ataque de Israel na Faixa de Gaza.
Soberania nacional
Lula afirmou que “em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades, cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias cívicas e digitais e cerceiam a imprensa”.
“Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade”, declarou.
Democracia
O presidente decidiu não falar nominalmente sobre Bolsonaro, mas foi explícito ao mencionar o caso do ex-presidente. Disse que ele foi condenado por tentar dar um golpe de Estado “em um processo minucioso” e que ele “teve amplo direito de defesa”.
“Há poucos dias e pela primeira vez em nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado democrático de direito. Foi investigado, indiciado e julgado e responsabilizado por seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas”, afirmou.
“Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e aqueles que os apoiam. Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, disse, sob aplausos. E continuou: “Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela. Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral.”
Regulação das big techs
Na tribuna, o representante do Brasil defendeu a regulação das big techs e afirmou que a internet não pode ser uma “terra sem lei”.
“A democracia também se mede pela capacidade de proteger as famílias e a infância. As plataformas digitais trazem possibilidades de nos aproximar como jamais havíamos imaginado. Mas têm sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis.”
Lua disse ainda que “regular não é restringir a liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual.” O presidente destacou as iniciativas do seu governo e Congresso Nacional na proteção digital de crianças e adolescentes, na mitigação dos riscos da inteligência artificial e no fomento à concorrência nos mercados digitais.
Mudanças climáticas
Lula falou também sobre a questão climática e destacou a importância da COP 30, que será realizada em Belém do Pará. “Será a COP da verdade”, afirmou.
“Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta. Sem ter o quadro completo das Contribuições Nacionalmente Determinadas (as NDCs), caminharemos de olhos vendados para o abismo.”
O representante brasileiro disse que as nações em desenvolvimento “enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo em que lutam contra outros desafios”, enquanto “países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões.”
“Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é uma questão de caridade, mas de justiça”, afirmou Lula.
ONU em xeque
Lula disse que a Assembleia Geral das Nações Unidas “deveria ser um momento de celebração”, já que a ONU “simboliza a expressão mais elevada da aspiração pela paz e prosperidade”. “Hoje, contudo, ideais que inspiraram seus fundadores estão ameaçados como nunca estiveram em sua história. O multilateralismo está diante de uma nova encruzilhada. A autoridade desta organização está em xeque. Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra”, afirmou, em crítica direta ao poder da ONU hoje em dia e sua autoridade para evitar conflitos mundo afora.
Palestina
O presidente da República disse, em seu discurso, que “nenhuma situação é mais emblemática do uso desproporcional e ilegal da força do que a da Palestina”. O líder brasileiro condenou os “atentados terroristas perpetrados pelo Hamas” e disse que eles são indefensáveis “sob qualquer ângulo”. E criticou também o que chamou de “genocídio” em Gaza e disse que milhares de mulheres e crianças inocentes estão sendo mortas pelas forças israelenses.
“Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente. Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo. Em Gaza a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente”, disse o presidente do Brasil. Lula disse admirar os judeus que, em Israel ou mundo afora, “se opõem a essa punição coletiva” e afirmou que o povo palestino “corre o risco de desaparecer” por causa dos ataques do exército israelense.
Defendeu ainda que a Palestina só sobreviverá se for um Estado independente e integrado à comunidade internacional. Lula criticou também os Estados Unidos por ter negado o visto ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para participar da Assembleia Geral da ONU.
Ucrânia
Lula defendeu, ainda, que todos sabem que “não haverá solução militar” para encerrar a guerra na Ucrânia. Segundo o presidente, o encontro promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Alasca “despertou a esperança de uma saída negociada”.
“É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista. Isso implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes. A Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos da Paz, criado por China e Brasil, podem contribuir para promover o diálogo”, disse o presidente brasileiro em seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira.
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