Saúde e Bem Estar- Síndrome Geniturinária da Menopausa
A síndrome geniturinária da menopausa (SGM) é definida como um conjunto de sinais e sintomas que se associam à redução dos níveis de estrogênio e de outros esteroides sexuais, promovendo alterações que envolvem o aparelho genital e o trato urinário inferior.
Dessa forma, a síndrome geniturinária pode incluir sintomas genitais, como secura vaginal, ardência, desconforto e irritação vulvovaginal, corrimento vaginal, além de sintomas sexuais, como falta de lubrificação e dor na relação sexual. Há, ainda, sintomas urinários, de aumento da frequência, ardência ao urinar, urgência miccional e infecções urinárias.
Cerca de 50% das mulheres na pós menopausa relatam sintomas relacionados à atrofia genital, o que determina um impacto na qualidade de vida, no humor e na autoestima, além de manifestações na esfera sexual. Muitos casos de síndrome geniturinária da menopausa são subdiagnosticados, pois muitas pacientes, dependendo do nível sociocultural, encontram resistência em conversar sobre esses sintomas com o seu médico.
Diferentemente dos sintomas vasomotores de fogachos, que tendem a diminuir com o tempo após a menopausa, as queixas associadas à síndrome geniturinária não reduzem espontaneamente e, muitas vezes, aumentam com a idade, devido à redução progressiva dos níveis de estrogênio circulante que promove diminuição da vascularização, perda da elasticidade e encurtamento vaginal.
Adicionalmente, na pós menopausa, ocorre o aumento do número de infecções vaginais recorrentes causadas pela diminuição de lactobacilos na mucosa vaginal e pelo crescimento de bactérias patogênicas, consequentes à diminuição gradual dos níveis de glicogênio celular. A microbiota vaginal das pacientes na menacme e na pós menopausa diferem principalmente pelo estado de hipoestrogenismo.
Além do hipoestrogenismo (redução dos níveis de estrogênio) decorrente da menopausa, vale citar outras condições associadas ao declínio hormonal que podem trazer sintomas de síndrome geniturinária, incluindo: amamentação, tratamentos oncológicos com radioterapia e quimioterapia, medicamentos, aumento do hormônio prolactina e pausa na menstruação devido a atividade física em excesso e distúrbios alimentares.
O diagnóstico da SGM é quase que essencialmente clínico, sendo estabelecido a partir da anamnese e exame físico. Na anamnese os sintomas de atrofia genital mais comumente relatados são ressecamento vaginal (55%), dor na penetração durante relação sexual (44%), irritação vaginal (37%) e impacto na atividade sexual (59%).
No exame ginecológico destas mulheres com a síndrome geniturinária, observa-se tecidos vaginais e vulvares pálidos, menos elásticos, ressecamento e sangramento no contato.
O fato da SGM variar em gravidade, desde leves incômodos até desconfortos debilitantes, torna o tratamento dos sintomas essencial para a redução do impacto destes sobre a qualidade de vida das mulheres acometidas por essa enfermidade. A indicação primária para o início do tratamento é o alívio dos sintomas referidos como incômodos, independentemente da referência ou não de atividade sexual.
A primeira linha de tratamento indicado no Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal da Menopausa é a terapia estrogênica via vaginal. Outra recomendação para mulheres sexualmente ativas na menopausa consiste no uso de hidratantes vaginais de longa duração e lubrificantes. Além do tratamento farmacológico, é importante ressaltar mudanças no estilo de vida, na tentativa de reduzir os fatores de risco relacionados à atrofia vaginal, como o tabagismo e o sedentarismo, bem como, se possível, na orientação da manutenção regular da atividade sexual. As técnicas de fisioterapia do assoalho pélvico podem também ajudar no tratamento, principalmente quando há manifestações urinárias, pois elas aumentam a força de contração e resistência da musculatura pélvica.
Nas mulheres que apresentam alguma contraindicação para terapia farmacológica ou que mesmo com os tratamentos citados persistem com sintomas, poderá ser indicado tratamentos com laser ou radiofrequência vaginal, com o objetivo de proporcionar remodelação do tecido conjuntivo, produção de colágeno e de fibras elásticas para melhora do trofismo vaginal. Estudos com estes dispositivos, que transmitem energia, estão mostrando resultados promissores com o objetivo de melhorar a funcionalidade do assoalho pélvico feminino em pacientes na menopausa.
Entretanto, é imprescindível o aumento dos estudos de desenvolvimento de novas terapêuticas que propiciem o envelhecer mais saudável e que visem melhorar os sintomas decorrentes da queda hormonal que ocorre na menopausa.
(Rejane Lis Menegaz Ströher, Médica Ginecologista-Obstetra e Uroginecologista e Docente da FAMED URI Erechim)