Saúde e Bem Estar – Candida auris: brasileiros infectados por superfungo seguem internados; entenda

Superfungo, Candida auris foi descoberta pela primeira vez em 2009 Melissa Golden/The New York Times/Reprodução TV Nativoos

Microrganismo é motivo de alerta para autoridades de saúde; expectativa de vida pode chegar a 90 dias

O superfungo Candida auris, identificado em três pessoas em um intervalo de menos de duas semanas em Pernambuco, fez com que a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) intensificasse o protocolo de vigilância hospitalar. Ao GLOBO, José Lancart de Lima, diretor geral de informações epidemiológicas do órgão, informou que os pacientes internados com a doença seguem estáveis.

— Nenhum deles procurou atendimento por apresentar algum sintoma associado ao fungo. Eles já tinham alguma comorbidade, foram ao hospital e acabaram descobrindo. Mas, até o momento, todos seguem estáveis. Quando estiverem em condições de alta, serão liberados — ressaltou Lima. — Não há confirmação de óbito. Seguimos vigilantes para garantir que os casos sejam restritos aos já identificados.

Entenda a cronologia

  • O primeiro paciente diagnosticado com Candida auris em Pernambuco neste mês foi um homem de 48 anos. O caso foi confirmado no dia 11 de maio e, desde então, ele permanece internado no Hospital Miguel Arraes, em Paulista;
  • Em 14 de maio, um homem de 77 anos também recebeu o diagnóstico. Ele está internado no Hospital Tricentenário, em Olinda;
  • Nesta segunda-feira, 22, o cenário levou a SES-PE a suspender novos atendimentos no Hospital Miguel Arraes, onde o primeiro paciente foi identificado, para evitar a disseminação do fungo;
  • Já no dia 23 de maio, foi confirmado mais um caso no Hospital Português, no Paissandu, área central de Recife. O paciente é um homem de 66 anos.

O que se sabe

Além do Brasil, o microrganismo tem motivado alertas das autoridades de saúde nos Estados Unidos. Resistente aos antifúngicos comuns, a Candida auris apresenta alta taxa de letalidade. Estimativas apontam que de 30% a 60% dos contaminados morrem em decorrência da doença. Apesar disso, Lima destacou que o fungo não é uma ameaça ao público geral. Os riscos, afirmou, são maiores quando pacientes têm comorbidades ou precisam realizar procedimentos invasivos.

— Isso pode ser uma porta de entrada para a infecção sistêmica. É o caso de pacientes que estão em ventilação mecânica ou fazem hemodiálise, por exemplo — esclareceu. — A principal via de comunicação é um contato prolongado com superfícies contaminadas. Não é o caso de contatos rápidos, como um aperto de mão. Geralmente, o fungo coloniza a superfície da pele dos indivíduos. Se ele se encontra apenas na parte externa do corpo, não há complicações.

Foi também em Pernambuco que o país registrou o maior surto de Candida auris, segundo um trabalho recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ao todo, 48 casos da doença foram identificados entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022 no Recife, número mais alto desde que o fungo foi confirmado pela primeira vez no país, em dezembro de 2020, em Salvador, Bahia.

Na época, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) destacou que o fungo “representa uma grave ameaça à saúde global”. Isso porque algumas cepas “são resistentes a todas as três principais classes de fármacos antifúngicos e sua identificação requer métodos laboratoriais específicos, uma vez que Candida auris pode ser facilmente confundida com outras espécies”.

Ameaça à saúde pública

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), os três principais aspectos que fazem com que o fungo represente uma ameaça à saúde pública são:

  • Multirresistente. “O que significa que é resistente a vários antifúngicos comumente usados ​​para tratar infecções por Candida. Algumas cepas são resistentes a todas as três classes disponíveis de antifúngicos”;
  • Diagnóstico. “É difícil identificar com métodos laboratoriais padrão e pode ser identificado erroneamente em laboratórios sem tecnologia específica. A identificação incorreta pode levar a uma gestão inadequada”;
  • Disseminação. “Ele causou surtos em ambientes de saúde. Por isso, é importante identificar rapidamente a C. auris em um paciente hospitalizado para que os serviços de saúde possam tomar precauções especiais para impedir sua propagação”.

O que é a Candida auris?

Candida auris foi descoberta no mundo em 2009, no Japão. A origem exata do fungo ainda é pouco conhecida. Pesquisadores atribuem o surgimento e a disseminação às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Na maioria dos casos, ele acomete pessoas com sistemas imunológicos comprometidos, como idosos e imunossuprimidos, em ambientes hospitalares.

Como é a transmissão?

“O mecanismo de transmissão dentro dos serviços de saúde ainda não é totalmente conhecido. Evidências iniciais sugerem que ela se dissemina por contato com superfícies ou equipamentos contaminados de quartos de pacientes colonizados / infectados, sendo, portanto, fundamental reforçar as medidas de prevenção e controle com ênfase na higiene das mãos, limpeza e desinfecção do ambiente e equipamentos”, diz o documento da SES-PE.

Nesta quinta-feira, segundo Lima, a SES criou um comitê estadual de enfrentamento ao fungo. Composto por áreas de especialidade diversas, que vão desde epidemiologistas a biomédicos, o objetivo é promover discussões que possam prevenir a ocorrência de novos casos em Pernambuco. O órgão salientou, ainda, que pessoas que tiveram contato com os pacientes infectados devem passar por um período de vigilância.

O fungo mata?

O CDC também aponta que quase metade dos pacientes que contraem Candida auris morrem em 90 dias. Mas, na época do alerta, Meghan Lyman, médica de doenças micóticas do CDC, destacou que uma razão para a alta letalidade é o fato das pessoas infectadas também estarem lidando com outros problemas de saúde, já que costumam estar internadas por motivos diversos.

Fonte: Globo.com

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