RS terá 85% dos produtos taxados com tarifaço, estima Fiergs


Apenas 15% da pauta exportadora foi isenta. Setores mais afetados se manifestam sobre o decreto

sobretaxa de 50% das exportações brasileiras aos Estados Unidos, programada para entrar em vigor em 1º de agosto mas que foi postergada para o dia 6 pela Casa Branca, ainda deixa quase 700 itens sem a cobrança extra, como suco de laranja, combustíveis, veículos, aeronaves civis e determinados tipos de metais e madeira. Porém, o Rio Grande do Sul continua sendo um dos estados mais impactados, analisam representantes do setor produtivo.

Luciano D’Andrea, gerente de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), afirma que apenas 15% da pauta exportadora foi isenta, e os outros 85% foram mantidos. “Após essa avaliação efetiva, a gente considera que o RS continua com impacto bastante grande em relação à média nacional. Ou seja, no nosso caso, 85% dos nossos produtos continuam taxados. É um número bem expressivo comparado com os 55% da indústria nacional que foram taxados”, diz.

Para D’Andrea, os 15% não amenizam tanto os impactos no estado com os dados atualizados. O Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho, que a federação estimava ter redução de R$ 2 bilhões, agora pode ficar em torno de R$ 1,5 bilhão para o próximo ano com a imposição das tarifas.

Com as novas medidas atualizadas, os setores que antes já estavam em cenário de preocupação para a economia do Rio Grande do Sul permanecem, que são os produtos de metal e armas, couro e calçados. “Nós temos a empresa Taurus com uma grande concentração de exportação para os Estados Unidos. É uma operação muito importante, que está vendo como contornar. Emprega muita gente e deixa um faturamento muito grande na região metropolitana”, diz D’Andrea. Os aviões e a laranja, que estão nos valores isentos, ainda que sejam maiores exportações em âmbito nacional, não fazem parte da pauta exportadora gaúcha.

Entre os produtos excluídos, e que, nas suas palavras, é importante e traz alívio, está a celulose, que tem quase 8% da exportação para os Estados Unidos. É uma produção importante, que dá em torno de R$ 150 milhões em exportação em 1 ano desse produto. As empresas vão poder continuar praticando aa exportações a partir do estado sem precisar fazer nenhum desvio por outras no mundo”, diz.

Móveis e madeira, embora isentos, ainda precisam ser analisados mais profundamente a maneira como serão afetados, explica. “Estamos hoje mesmo entrando em contato com os setores para entrar um pouco mais a fundo nos NCMs desses setores”, diz. Os produtos estão em partes de uma investigação dos EUA que envolve a sessão 232. “Até que se esgote a conclusão dessa investigação, a gente não tem claro como ficam. Por enquanto, estão isentos, mas pode ser taxado quando a sessão encerrar, como encerrou para aço e alumínio quando foram taxados em março e agora em julho”, diz.

A postergação da entrada em vigor para o dia 6 de agosto dá uma semana de alívio para os exportadores, lembra. “Certamente, as empresas sabendo desse prazo vão estar retomando as negociações com os importadores que provavelmente ficaram aguardando. Aqueles que conseguem mandar por avião até o dia seis, poderão enviar. Os demais também estão com embarcações a caminho e, nesta semana, pode ser determinante para que os produtos cheguem sem a tarifa”, explica.

Na FIERGS, está sendo criado um comitê de crise para analisar junto ao presidente, Cláudio Bier, e setores que continuam sendo mais afetados, para elencar medidas que possam mitigar o efeito a partir de agora.

Considerando que a decisão irá afetar a questão trabalhista e tributária, a federação está viabilizando pedidos e reuniões junto ao governo estadual e federal, como a solicitação de prorrogação de prazo de contratos e mecanismos de comércio exterior nas obrigações das empresas exportadores, com o objetivo de amenizar o impacto econômico e financeiro para que empresas possam continuar exportando. “Também temos esperança que o governo americano abra uma rodada de negociações e retire outros setores que estão nessa primeira rodada da lei”, diz.

O número de perda de empregos segue sendo uma preocupação para os setores produtivos. Anteriormente, era estimada uma perda de 22 a 25 mil empregos. Com algumas exclusões na lista de itens, o número pode cair para 20 mil empregos na dependência do próximo ano.

odos os nossos setores ligados às exportações para os Estados Unidos empregam 145 mil pessoas. D’Andrea afirma que, tirando a celulose, que ficou excluída, a estimativa é de redução para 140 mil empregos vinculados aos setores não isentos. “Mas isso tudo a gente está analisando, porque pode ter efeitos também não só de empresas que exportam, mas de empresas que vendiam para essas que exportam. Tem todo um efeito indireto muito importante nas cadeias produtivas, como couro, calçados e outros segmentos”, diz.

A ordem executiva afirma que o governo americano poderá duplicar ou aplicar novas tarifas a partir da retaliação caso o governo brasileiro aplique qualquer medida de retaliação. O cenário de instabilidade diplomática aumenta a insegurança e imprevisibilidade do que pode acontecer daqui para frente.

“O Brasil, lógico, foi afetado em uma proporção maior. Mas aconteceu com a Índia também. Ou seja, ele está com uma política do governo norte-americano e o presidente Trump com uma política, também para outros países na mesma linha. Às vezes o tom e os fatos são outros para outros países, mas sempre usando o comércio como uma mecanismo de protecionismo”, analisa.

Setores produtivos se manifestam sobre tarifaço

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) manifestou-se afirmando que a lista de isenções é limitada para alimentos e altas tarifas podem gerar distorções na atual dinâmica das cadeias de valor. Em nota, a associação acrescentou que a retração hipotética de 10% no volume de exportações para os EUA poderia resultar em até US$ 570 milhões a menos no faturamento anual da indústria brasileira de alimentos.

“A ABIA considera que a lista de isenções da tarifa adicional imposta pelos Estados Unidos é uma medida limitada, que poderá causar forte impacto nas exportações de produtos que desempenham papel vital na segurança alimentar e na estabilidade dos preços no próprio país importador. A imposição de altas tarifas a categorias-chave, como carnes, cafés e óleos vegetais, reflete uma assimetria que prejudica a previsibilidade do comércio bilateral e gera distorções nas cadeias de valor”, diz trecho da nota.

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) fala em “danos irreversíveis” às exportações de calçados e estima que, com a medida, as exportações para os Estados Unidos serão inviabilizadas, com a justificativa de que tem empresas cuja produção é integralmente enviada ao mercado externo, sendo a maior parte para os Estados Unidos.

O presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira, afirmou que as empresas terão produtos muito mais caros do que os importados da China, por exemplo, que pagam uma sobretaxa de 30%. “Estamos falando, neste primeiro momento, de uma perda estimada em cerca de 8 mil empregos diretos”, disse.

Entre as medidas paliativas, está trabalhar junto aos governos Federal e estaduais para mitigar os efeitos da medida na indústria. Entre as medidas solicitadas, estão linhas para cobrir o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) em dólar com juros do mercado externo, a ampliação do Reintegra para exportadores, a liberação imediata de créditos acumulados do ICMS (Estados) e a reedição do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm).

Fonte: Correio do Povo

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