Nativoos Esportes – Clube de Tramandaí coloca o litoral no mapa do futebol gaúcho e pode ser campeão da Terceirona neste domingo
Real Sport Club está perto de se tornar o primeiro campeão da região através de um clube-empresa com gestão familiar
O futebol praiano viveu tempos gloriosos em décadas passadas quando os campeonatos à beira-mar convergiam com boa parte do entretenimento dos gaúchos durante o veraneio. Hoje, no período em que muitas famílias contam os carros por minuto na freeway, as atrações são outras.
Ou seja, é autoexplicativo dizer que os tempos também são diferentes. Só que existe, claro, nos outros meses do ano uma vida de quem vive de fato nas cidades litorâneas. Em Tramandaí, o futebol voltou a ser destaque, mas não o amador jogado de pé descalço na areia e sim o profissional de chuteira na grama. No domingo, o estádio Módulo Esportivo na entrada da ‘capital das praias’ recebe a final da Série B do Gauchão.
A atração chama-se Real Sport Club. O clube-empresa fundado em 2005 faz o jogo de volta da decisão contra o Gramadense. Depois da vitória na Serra por 2 a 1, um empate dá o título para o time do Leão de Judá no escudo e do ‘azul do mar e o amarelo do sol’ nas cores da camiseta. A conquista seria inédita para o Litoral e o ápice do trabalho que em 2025 terá o desafio de medir forças com adversários na Divisão de Acesso do Gauchão.
Em rápidos minutos de visita ao Real Tramandaí, é possível ver como a coisa funciona. O filho é o diretor e a esposa é a vice-presidente. Eduardo Sena é o dono do projeto. “Nasceu de um anseio de família de trabalhar com o futebol de alto rendimento. Queríamos um clube profissional nesta região. Começamos como empresa no início e em 2015 nos tornamos profissionais homologados em 2017 na Federação Gaúcha”, conta orgulhoso o dirigente que fez carreira como jogador de futebol, inclusive com passagens pela Dupla Gre-Nal.
O investimento familiar conta com ajuda de patrocinadores, empresários e políticos locais. Valdir Grolli, de 66 anos, tio do ex-zagueiro do Grêmio Douglas Grolli, hoje no Japão, é uma espécie de “faz tudo” e qualquer movimento interno passa pelo crivo de seus cabelos brancos. As relações interpessoais são nitidamente diferentes dos clubes milionários em que a distância dos contracheques afasta a realidade entre patrão e empregados.
Crianças do sub-9 ao sub-15 compõem a base do Leão. Do sub-17 ao profissional, começa a competição. Ao todo são cerca de 250 atletas, 50 deles alojados em um hotel. Ainda há uma parceria com o exército que cede outros campos de treinamentos. “A gente tem um gasto de R$ 80 a 100 mil mensais para a manutenção, alimentação, hospedagem, estrutura, logística de jogos e viagens”, explica o diretor-executivo Fernando Sena, filho de Eduardo e Eliane, esta responsável pelas questões burocráticas.
No comando técnico está Vladimir Duarte, espécie de ‘cria da casa’ por ter se criado na região e conhecer a memória do clube. De fala equilibrada, ciente do momento decisivo pela frente, ele faz questão de reconhecer a fonte em que bebe: “Temos aqui uma tradição de treinadores gaúchos. Não tem como não falar de um Tite, de um Mano Menezes e agora estou muito feliz com a ascensão do Roger Machado que é uma referência para todos nós, porque ele tem uma leitura acadêmica que fica muito clara para gente quando a gente ouve as entrevistas e vê os jogos”, conta.
Campeão pelo Botafogo e outros nomes deixaram dividendos
Do projeto de Tramandaí, saíram nomes conhecidos. O primeiro foi Jucilei, em 2008 que depois foi jogar no Corinthians e no São Paulo. Marlon Freitas, capitão do Botafogo campeão da América é outro. Em 2015, ele estava emprestado pelo Real ao sub-17 do São José, quando foi negociado ao Fluminense. São em negócios como esse e principalmente no exemplo de Roger Ibañez que ajudam a explicar o sacrifício do investimento.
O zagueiro chamado por Tite para a Seleção Brasileira, em 2017 trocou Tramandaí por Garibaldi quando também foi descoberto pelo mesmo Fluminense. De lá, foi vendido para a Atalanta, depois seguiu na Itália para a Roma e por último foi para o Al-Ahli, da Arábia Saudita. No caminho das milionárias transferências em euros ou dólares, não importa, 0,35% da formação do atleta, pinga na conta do Real.
Trio de gringos e Tik Tok
Como acontece nos grandes clubes do Brasil, há uma leva de estrangeiros no elenco. São três jovens, assim como 100% do vestiário com idade inferior a 24 anos. Cada um com uma história parecida. Deixam para trás os países de nascimento alimentando o sonho de jogar futebol por aqui.
“Eu aceitei porque é uma experiência muito boa. Um país conhecido por ser rei do futebol. Gosto do jogo bonito”, conta o atacante equatoriano Sebastian, trazido ao Sul após ser observado por uma comissão técnica brasileira no seu país de origem. “Está muito bom e legal. Eu gosto muito. Dura um tempo para acostumar com gente diferente, com coisas diferentes, mas tem que se adaptar. Aqui no Brasil eu gosto do Ronaldinho e do Neymar”, diz Ruben, atacante nascido em San Diego, na Califórnia americana.
“Eu saí da Venezuela pela situação econômica que estava bem complicado. Eu e minha família decidimos sair. Aí morei em Roraima três anos, passei por vários clubes e estou há três anos no Sul”, revela o goleiro Álvaro, admirador dos arqueiros João Paulo, do Santos e Everson do Atlético-MG.
Febre entre os jovens, a rede social Tik Tok colocou recentemente um jogador do Real em evidência. Um vídeo de dribles de Renatinho Rabisco nos adversários viralizou na rede. Passou da casa do milhão e os da sequência surfaram a onda na conta de agora 760 mil seguidores. O vídeo do gol na semana passada contra o Gramadense rendeu, via plataforma, um valor superior ao do próprio salário do atleta. Realmente, os tempos hoje são outros.
Foto: Pedro Piegas
Fonte: Correio do Povo
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