Morre Angela Ro Ro, ícone da MPB, aos 75 anos

Cantora, compositora e pioneira da música popular brasileira, Angela Ro Ro marcou gerações com sua voz potente e personalidade autêntica
Angela Ro Ro morreu nesta segunda-feira (8/9), aos 75 anos, no Rio de Janeiro (RJ). A cantora foi acometida por uma infecção e sofreu uma parada cardíaca, à qual não resistiu. Ela estava internada desde junho e chegou a passar 21 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após complicações que levaram à intubação e à realização de uma traqueostomia.
Angela chegou a apresentar dificuldades de comunicação e coordenação motora, mas retomou a fala no começo de agosto. Na mesma época, ela lançou um site para receber doações.
Além de estar com saúde fragilizada, Angela Ro Ro vivia em situação financeira delicada e, recentemente, voltou a pedir doações para custear despesas hospitalares. Ela não recebia aposentadoria e contava com cerca de R$ 800 mensais, provenientes de direitos autorais.Play Video
A carreira de Angela Ro Ro
Com mais de 20 discos lançados e quase 80 músicas registradas em sua discografia, Angela Ro Ro foi cantora, pianista e compositora.
Conhecida pela voz rouca que lhe rendeu o apelido usado como nome artístico, ela viveu uma temporada na Europa nos anos 1970, passou por Roma e depois se estabeleceu em Londres, onde chegou a trabalhar como faxineira em um hospital. Filha de pai baiano, tinha proximidade com o cineasta Glauber Rocha, que a apresentou a Caetano Veloso durante o período em que o cantor estava exilado.
Foi Caetano quem a convidou para participar do hoje cultuado álbum Transa (1972), tocando gaita na faixa Nostalgia, ao lado de Jards Macalé, Áureo Martins e Tutty Moreno. Nessa época, já compunha, mas em inglês — músicas que depois seriam traduzidas para o português.
De volta ao Brasil, começou a se apresentar em casas noturnas cariocas e despertou o interesse das gravadoras. Seu álbum de estreia trouxe o sucesso Amor, Meu Grande Amor, que a projetou como um dos grandes nomes da MPB.
Durante a década de 1980, viveu tanto o auge da carreira quanto turbulências pessoais. A imprensa frequentemente destacava seu temperamento explosivo e o envolvimento com drogas. O relacionamento conturbado com Zizi Possi, que chegou a acusá-la de agressão, também virou assunto público. Essas experiências acabaram refletindo em sua obra, como no disco Escândalo (1981).
Nos anos 1990 e 2000, Angela buscou mudanças. Declarou ter abandonado vícios como o álcool e o cigarro e passou a adotar uma rotina mais equilibrada. Também experimentou novos caminhos na carreira, como a apresentação do programa Escândalo, exibido no Canal Brasil entre 2004 e 2005. Mais tarde, em 2017, retornou com o álbum Selvagem, o primeiro de inéditas após 11 anos.
Um dos episódios mais curiosos de sua carreira envolve a canção Malandragem, composta por Cazuza especialmente para ela. Angela não se identificou com a letra e recusou a gravação. A música, no entanto, acabou se tornando um clássico nos anos 1990 na voz de Cássia Eller.