Leite Compen$ado – Ministério Público investiga leite adulterado com soda cáustica

Foto: Humberto Nicoline/Embrapa/Divulgação

Sindilat cobra investigação e penalidades duras sobre adulteração do leite

Operação Leite Compen$ado 13 realiza mandados Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na Capital paulista e prende seis pessoas

Na 13ª etapa da Operação Leite Compen$ado, o Ministério Público do Rio Grande do Sul investiga a produção de derivados lácteos – leite UHT, composto, leite em pó, soro, entre outros –, em uma fábrica da Dielat, no município de Taquara, no Vale do Paranhana, com adição de soda cáustica e outros produtos nocivos à saúde, como água oxigenada. Além disso, foram detectados “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens.

O MP informou a prisão, “novamente”, do “químico industrial conhecido entre os fraudadores como o Alquimista ou o Mago do Leite. A apuração é conduzida pelas Promotorias de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e de Defesa do Consumidor. O nome da empresa foi confirmado pela Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), em nota distribuída na manhã desta quarta-feira. Foram presos preventivamente o químico, o sócio-proprietário da indústria, em São Paulo, e dois gerentes, informou o MP. De acordo com o G1, outras duas pessoas foram presas em flagrante.

Distribuição dos produtos

Os promotores Mauro Rockenbach e Alcindo Bastos ressaltam que os produtos da Dielat são distribuídos para todo Rio Grande do Sul, para todo o Brasil e até para a Venezuela. A fábrica já venceu e participa de várias licitações em muitas partes do país para fornecimento de laticínios. Recentemente, a empresa foi vencedora de um certame para distribuir produtos derivados do leite para escolas de uma cidade paulista.

A equipe mobilizada para a Operação Leite Compen$ado somou 110 agentes, que cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em empresas e residências de Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na Capital paulista. O laticínio, conforme a apuração, o contratou o Alquimista para assessorar na produção. A ofensiva contou também com o apoio da Brigada Militar.

Alvo reincidente

Conforme o MP, o Alquimista foi alvo da quinta fase da operação, em 2014. Na época, foi descoberta a participação do engenheiro químico na adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada nos produtos de uma indústria em Imigrante, no Vale do Taquari.

“Agora, depois de ser absolvido de uma condenação de 2005 por fato semelhante e ter sido imposta medida cautelar contra ele pela Justiça em Teutônia, além de estar aguardando há dois anos para colocar tornozeleira eletrônica e ainda há mais tempo pelo desfecho do processo judicial da Leite Compen$ado 5, o Mago do Leite é mais uma vez alvo do MP”, diz o texto divulgado pelo Ministério Público.

A participação do Alquimista na suposta fraude foi estabelecida pelo MP em parceria com Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Receita Estadual, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ministério Público de São Paulo (MPSP) e Delegacia do Consumidor da Polícia Civil (Decon).

Evolução da Compen$ado

O promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, afirma que, depois de 2017, após a Leite Compen$ado 12, houve apenas duas denúncias sobre a adulteração no leite, mas ambas envolvendo pouca quantidade de adição de água ao produto, o que não rendeu uma nova fase da operação. No entanto, foram sugeridos e fiscalizados pequenos ajustes na cadeia produtiva.

“Com a denúncia de 2024 se confirmou um novo risco e, para nossa surpresa, lá estava o Alquimista – ou Mago do Leite. Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da Leite 5.

O promotor salientou que o Alquimista detém o conhecimento exato para a adulteração.

Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, ressalta Rockenbach.

Processo de adulteração

Já o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, explica que a soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez e, ainda por cima, volatiza ou desaparece rapidamente, não sendo detectada nas análises.

“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos – ‘vitamina’ e ‘receita’ – para tentar despistar qualquer tentativa de investigação.

De acordo com Bastos, as irregularidades foram detectadas no leite UHT, no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite. Para o composto lácteo, é também reprocessado o produto vencido para reutilizá-lo novamente.

“Já a água oxigenada ou peróxido de hidrogênio, serve para matar micro-organismos e recuperar produto em deterioração. Isso, sem falar da soda cáustica, que pode conter metais pesados, alguns, inclusive, cancerígenos”, disse Alcindo Bastos.

Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) manifestou que o leite é um produto nobre, produzido com zelo e cuidado por milhões de pessoas no mundo. Em nota oficial, divulgada nesta quarta-feira, dia 11, a entidade repudiou com veemência qualquer tipo de adição indevida ao alimento.

Na 13ª etapa da Operação Leite Compen$ado, o Ministério Público do Rio Grande do Sul investiga a produção de derivados lácteos – leite UHT, composto, leite em pó, soro, entre outros –, em uma fábrica da Dielat, no município de Taquara, no Vale do Paranhana, com adição de soda cáustica e outros produtos nocivos à saúde, como água oxigenada. Além disso, foram detectados “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens.

Sobre o caso, a nota oficial divulgada pelo Sindilat defendeu que à suposta adulteração precisa ser apurada com rigor, e os responsáveis punidos. Também repudiou com veemência qualquer tipo de adição indevida ao alimento, um procedimento que vai na contramão de um trabalho meticuloso e diário adotado por produtores, transportadores e indústrias nos últimos anos para elevar os padrões de qualidade no Rio Grande do Sul.

O leite gaúcho hoje é o mais fiscalizado do Brasil, procedimentos regrados por legislações federal e estadual em diferentes instâncias e órgãos de controle, a exemplo do Ministério da Agricultura, Anvisa, Secretaria da Agricultura, entre outros. Todas as cargas que chegam às empresas passam por testes físico-químicos em diferentes etapas do processo produtivo e os resultados estão constantemente à disposição das autoridades. Qualquer ação adotada no intuito de burlar o sistema posto é rechaçada em coro por todos os agentes do setor produtivo e deve ser punida.

Fonte: Jornal Correio do Povo

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