Emendas Pix: deputados mandam R$ 171 milhões a prefeitura de parentes
Levantamento do Metrópoles aponta que deputados mandaram emendas para cidades de pais, filhos, irmãos ou cônjuges
Deputados federais enviaram emendas de transferência especial – as conhecidas emendas Pix – para prefeituras chefiadas por parentes. A fatia do orçamento público destinada pelos parlamentares às unidades estaduais comandadas pelos próprios pais, filhos, irmãos ou cônjuges já ultrapassou a casa dos R$ 171 milhões em 2024.
A situação se repete em 20 municípios, mas o destaque fica com Coari, no interior do Amazonas. Em 2024, a cidade recebeu R$ 18,4 milhões em emendas Pix por indicação de Adail Filho (Republicanos). Ocorre, entretanto, que o deputado e o prefeito Keitton Pinheiro (PP) são primos.
Eleito deputado federal em 2022, Adail Filho está no primeiro mandato na Câmara dos Deputados. Ele é filho de Adail Pinheiro, que estaria no comando do município de Coari (AM) não fosse uma decisão judicial que o impediu. O veterano na política coariense, entretanto, voltou ao cargo, após garantir a maioria dos votos nas Eleições Municipais de 2024.
Emenda Pix é o nome dado à modalidade que permite a transferência direta de verbas da União aos estados e municípios, sem a necessidade de formalização prévia de convênios, apresentação de projetos ou aval técnico do governo federal. A modalidade atingiu volume recorde em 2024 e ganhou prioridade na liberação, em razão do ano eleitoral.
Outro destino de emendas Pix que chama a atenção fica no interior do Pará. O montante de R$ 16,8 milhões chegou ao município de Tucuruí por indicação de Andreia Siqueira (MDB). A parlamentar é esposa de Alexandre Siqueira (MDB), prefeito da localidade paraense.
Veja lista:
Envio de emendas Pix às cidades governadas por parentes
Deputado (autor da emenda) | Cidade | Prefeito | Relação (deputado → prefeito) | Valor | |
---|---|---|---|---|---|
Adail Filho | Coari (AM) | Keitton Pinheiro | primo → primo | R$ 18.434.456 | |
Andreia Siqueira | Tucuruí (PA) | Alexandre Siqueira | esposa → esposo | R$ 16.771.585 | |
Daniel Barbosa | Arapiraca (AL) | Luciano Barbosa | filho → pai | R$ 13.000.000 | |
Meire Serafim | Sena Madureira (AC) | Mazinho Serafim | esposa → esposo | R$ 12.185.792 | |
Ricardo Maia | Tucano (BA) | Ricardo Maia | pai → filho | R$ 11.728.311 | |
Domingos Neto | Tauá (CE) | Patricia Aguiar | filho → mãe | R$ 10.085.792 | |
Elmar Nascimento | Campo Formoso (BA) | Elmo Nascimento | irmão → irmão | R$ 10.000.000 | |
Daniela do Waguinho | Belford Roxo (RJ) | Waguinho | esposa → esposo | R$ 10.000.000 | |
Thiago de Joaldo | Itabaianinha (SE) | Danilo de Joaldo | irmão → irmão | R$ 9.485.000 | |
Amanda Gentil | Caxias (MA) | Fabio Gentil | filha → pai | R$ 8.185.790 | |
Robério Monteiro | Acaraú (CE) | Ana Flavia Monteiro | esposo → esposa | R$ 8.135.792 |
Gustinho Ribeiro | Lagarto (SE) | Hilda Ribeiro | esposo → esposa | R$ 7.285.792 | |
Rodrigo Gambale | Ferraz de Vasconcelos (SP) | Priscila Gambale | irmão → irmã | R$ 6.804.824 | |
Eduardo Bismarck | Aracati (CE) | Bismarck Maia | filho → pai | R$ 6.000.000 | |
Iza Arruda | Vitória de Santo Antão (PE) | Paulo Roberto | filha → pai | R$ 5.000.000 | |
Fernando Coelho Filho | Petrolina (PE) | Miguel Coelho | irmão → irmão | R$ 4.700.000 | |
Yandra Moura | Japaratuba (SE) | Lara Moura | filha → mãe | R$ 4.385.000 | |
Eriberto Medeiros | Cumaru (PE) | Mariana Medeiros | esposo → esposa | R$ 4.000.000 | |
Júnior Mano | Nova Russas (CE) | Giordanna Mano | esposo → esposa | R$ 3.050.000 | |
Robério Monteiro | Itarema (CE) | Elizeu Monteiro | irmão → irmão | R$ 2.600.000 |
O levantamento do Metrópoles analisou dados relativos ao pagamento das emendas parlamentares de transferência especial do portal Siga Brasil. A reportagem, então, buscou parentesco entre o autor de cada emenda e o chefe do Executivo municipal nas cidades que receberam ao menos R$ 2 milhões. Os dados são de 16 de dezembro.
A execução dessa fatia do orçamento enfrentou entraves e deflagrou uma crise entre os Poderes em 2024. Em agosto, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), interrompeu os repasses e condicionou a retomada à adoção de critérios para reforçar a transparência, a rastreabilidade e o controle público da origem à destinação dos recursos.
Após um longo período de negociações e a aprovação de um projeto de lei complementar (PLP), o magistrado autorizou a execução dos recursos no início de dezembro. Dino, entretanto, estabeleceu critérios de transparência.
Ainda assim, a crise entre os Poderes não chegou ao fim, já que as regras firmadas pelo STF desagradaram os parlamentares. A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu que o ministro reconsiderasse as determinações, mas ele rejeitou o pedido. O órgão, então, atuou na elaboração de portaria interministerial, a fim de garantir segurança jurídica à liberação.
2024 chegou ao fim e a novela jurídica ainda não. Um novo ano começou e agora resta aguardar as cenas do próximo capítulo.
Fonte: Metrópole
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