Cultura em luto – Morre Preta Gil, aos 50 anos

Cantora e empresária, filha de Gilberto Gil fez longo tratamento contra a doença, no Brasil e nos EUA
Preta Gil, cantora, atriz, apresentadora e empresária, morreu neste domingo aos 50 anos, em decorrência de um câncer. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa dela. Preta passou as últimas semanas nos Estados Unidos, onde tentava um tratamento experimental contra a doença.
Filha do cantor e compositor Gilberto Gil, ela enfrentou um câncer quase dois anos contra um câncer no intestino, que a levou a cirurgias e exames no Brasil e, por fim, um tratamento nos Estados Unidos. A maneira corajosa e transparente como Preta lidou com a doença emocionou o Brasil. “Sei que fiz a escolha certa em dividir com as pessoas as minhas vulnerabilidades e meus sofrimentos. Mas com a cabeça erguida, como sempre foi, desde o começo”, disse ela quando venceu o Prêmio faz Diferença, do GLOBO, em 2024.
Preta Maria Gadelha Gil Moreira foi diagnosticada em janeiro de 2023 com adenocarcinoma, um câncer no intestino. Após cirurgia e tratamentos de quimioterapia e radioterapia, a cantora chegou a anunciar que a doença estava em remissão. Em agosto de 2024, contudo, ela foi a público dizer que o câncer havia voltado em diferentes partes do seu corpo: dois tumores nos linfonodos, um nódulo no ureter e metástase no peritônio.
Tratamento nos EUA
Em maio de 2025, Preta Gil viajou aos Estados Unidos, onde fez uma consulta no Virginia Cancer Institute, em Washington, para saber se poderia integrar grupos de pacientes que recebem tratamentos inovadores. Em seguida, ela viajou a Nova York para exames no Sloan Kettering Cancer Center, instituição que é referência mundial em tratamento e pesquisa de câncer. Amigos e familiares se revezaram na cidade americana para acompanhar a cantora, que seguia postando parte de sua rotina nas suas redes sociais. “Mais uma dose”, escreveu em uma das fotos.
Em participação no no programa “Domingão com Huck”, da TV Globo, Preta havia contado sobre a ideia de dar continuidade ao tratamento fora do Brasil. “Sou grata por passar por tudo isso podendo me tratar com dignidade. Entro em uma fase difícil. No Brasil, já fizemos tudo que podíamos, agora a minha chance de cura está no exterior, e é para lá que eu vou”, disse, na ocasião.Em agosto de 2024, Preta Gil comemorou o aniversário de 50 anos com uma festa para 700 pessoas num dos armazéns da Zona Portuária do Rio, com shows da banda Psirico e da cantora Ludmilla. Na mesma época, ela lançou a autobiografia, “Preta Gil: os primeiros 50” (Globo Livros), no qual relata a luta contra o câncer e o término do casamento de oito anos com o produtor Rodrigo Godoy, em 2023, após descobrir que ele a tinha traído enquanto ela fazia o tratamento contra o câncer.
Primeiro disco em 2013
Preta Gil lançou seu primeiro álbum, “Prêt-à-porter”, em 2003, quando seu pai era ministro da Cultura do primeiro governo Lula, com um repertório mesclando pop, MPB, samba e funk. Na capa e no encarte do CD, ela estava nua. Diante da polêmica causada pelas fotos, ela disse, em entrevista a Fernanda Young que o barulho não teria acontecido se ela fosse magra. A partir desse momento, Preta passou a ser uma referência para a autoaceitação feminina, se posicionando contra pressão estética pela magreza ou por padrões físicos.
O segundo disco, “Preta”, veio dois anos depois, seguido pela turnê e o DVD “Noite Preta”. Em 2010, ela apresentou o talk show “Vai e vem”, com conversas sobre sexo, no canal GNT. Seu terceiro álbum, “Sou como sou”, foi lançado em 2012. No ano seguinte, ela comemorou dez anos de carreira com a gravação do DVD “Bloco da Preta”, do qual participam Lulu Santos, Ivete Sangalo, Anitta, Israel Novaes e Thiaguinho. O terceiro álbum, “Todas as cores”, veio em 2017.
Em 2009, a cantora lançou o Bloco da Preta, que logo tornou-se um sucesso do carnaval do Rio de Janeiro e, dez anos depois, estreou em São Paulo. Bissexual, ela era vista como símbolo de empoderamento pela comunidade LGBTQIA+.
Em paralelo com a carreira musical, Preta participou de novelas como “Caminhos do coração” (2007) e “Os Mutantes” (2008), da Record. Também atuou na série “As cariocas” (2010) e na novela “Cheias de charme” (2012), da TV Globo; além de filmes como “Billi Pig” (2011), “Crô em família” (2018) e “Filho da mãe” (2022).
Além da música e das novela, Preta Gil também se dedicou aos negócios. Em 2017, ela fundou a Mynd, ao lado de Fátima Pissarra e Carlos Scappini. A empresa é especializada em música, marketing de influência e entretenimento.
Autobiografia
Em agosto de 2024, Preta lançou sua autobiografia, “Preta Gil: os primeiros 50”, pela Globo Livros. “Vivi muitos altos e baixos, não foi uma vida fake. Foi vivida com tudo de bom e de ruim”, disse ela ao GLOBO na ocasião do lançamento. O livro não segue uma ordem cronológica: começa com seus relatos com a descoberta do câncer. Também lembra da infância no Rio, num colégio de classe alta, as primeiras experiências amorosas — com mulheres e com homens —,o acidente de carro que matou o irmão Pedro, em 1990, o sucesso como jovem produtora e o dia em que se entregou de corpo e alma ao posar nua para a capa de seu primeiro álbum, “Prêt-à porter”, em 2003.
— Com o disco, tive uma compreensão muito forte de que não era o mundo da “Preta no País da Tropicália”. Existiam pessoas que pensavam diferente de mim, que educavam seus filhos de forma diferente dos meus pais, com preconceitos, moralismos, racismo, gordofobia, machismo — disse ela na entrevista. — Tive que começar a lidar com a realidade, com pessoas que me julgavam, me odiavam. Isso foi um baque, mas enfrentei, enfrento até hoje, e tenho vencido, acho.
A madrinha Gal Costa sempre foi um colo seguro onde ela se agarrava quando pequena. “Minha madrinha sempre foi uma grande paixão. E, mais do que do meu pai, eu queria era estar atrás dela”, relembra Preta na autobiografia.
— Na infância e adolescência, fui muito próxima dela. Na vida adulta, a gente se encontrava muito esporadicamente. Mas, a partir de 2017, quando gravamos a música “Vá se benzer”, a gente virou amiga mesmo, de trocar ideia, de ligar para saber como estavam as coisas — afirmou.
Vida pessoal
Filha de Gilberto Gil e de Sandra Gadelha, Preta casou com o ator Otávio Muller, pai de seu único filho, Francisco Gadelha Gil Moreira Muller de Sá. O segundo casamento foi com o mergulhador Carlos Henrique de Lima. Entre 2015 e 2023, ela foi casada com o personal trainer Rodrigo Godoy, relação que terminou durante o tratamento contra o câncer.
Preta Gil afirmava-se bissexual, nunca escondeu que tinha tido relações com mulheres, e era uma defensora dos direitos das pessoas LGBTQIA+.
Fonte: Globo.com