Clima – Ciclone extratropical: o que provocou o fenômeno no RS e qual a chance dele se repetir?


Evento se espalhou por todo Rio Grande do Sul ao longo da sexta-feira

Um ciclone extratropical se formou sobre o Atlântico na costa do Sul do Brasil, junto ao Sul de Santa Catarina e o Litoral Norte gaúcho. A baixa pressão se originou na costa de São Paulo, onde gerou muita chuva e inundações em São Sebastião, e se deslocou para o Sul até se intensificar muito entre quinta à noite e o começo da sexta a Leste de Torres como um ciclone extratropical maduro.

Ciclones são normais?

Sim! Ciclones são absolutamente comuns em nosso clima e ocorrem no Atlântico Sul semanalmente. Não raro há dois ou três ciclones no Sul do Atlântico perto da Argentina e da Antártida. Já ciclones na costa do Sul do Brasil são menos frequentes, embora não raros. 

Como se classifica o ciclone desta sexta?

Tratou-se de um ciclone de natureza extratropical, ou seja, com todo o seu centro frio. Já a tempestade Yakecan, de maio do ano passado, foi um ciclone subtropical, logo com centro quente em superfície e frio em altura. Ciclones extratropicais não recebem nomes no Brasil, somente os subtropicais e tropicais.

Ciclone teve algo de diferente?

Sim, assim como a tempestade subtropical Yakecan de maio de 2022, o ciclone extratropical desta sexta avançou de Leste para o Oeste, do mar para o continente, quando a trajetória normal de ciclones é de Oeste para Leste. Yakecan veio do Sul, ao se formar na costa da Argentina, e o sistema de sexta veio do Norte, após ter se originado na costa paulista. 

Por que choveu tanto?

O centro do ciclone estava muitíssimo perto da costa entre o final da quinta e o começo do dia de sexta com as nuvens mais carregadas a Oeste do seu centro de circulação sobre o Nordeste gaúcho. Por isso, a chuva foi extrema na Serra, Litoral Norte, Grande Porto Alegre e nos vales. 

Fonte: MetSul

O fluxo de umidade do oceano para o continente pela tempestade costeira era intenso com o vento muito forte em baixos níveis da atmosfera, contribuindo para os volumes de chuva excessivos. Uma vez que a pressão não era muito baixa no centro do sistema, o maior impacto foi chuva que vento, embora o vento tenha atingido 80 km/h em Porto Alegre e mais de 100 km/h no Litoral Norte.

Foi uma chuva fora do normal?

Bastante! Foi um evento histórico de precipitação. É muito raro ter volumes de chuva tão altos quanto os registrados em Porto Alegre, nos vales e região metropolitana em poucas horas. Na encosta da Serra junto ao Litoral Norte, por efeito do relevo (orografia), estes episódios extremos ocorrem com maior recorrência. Houve um, por exemplo, na primeira semana de março deste ano.

Para se ter ideia de como foi incomum a chuva, Porto Alegre teve o maior acumulado de precipitação em 24 horas em junho de sua série histórica com 141,6 mm até 9h de sexta superando o recorde mensal de 138,8 mm de 15 de junho de 1982. A média histórica de precipitação de Porto Alegre de junho todo é 130 mm. 

O volume até 9h de sexta de 209,0 mm em Campo Bom foi o maior em 24 horas em junho em estação do Instituto Nacional de Meteorologia no Rio Grande do Sul desde 1961. A chuva até o meio da tarde de sexta atingia quase 350 mm na região de Maquiné, no Litoral Norte, e variava de 200 mm a 275 mm no Vale do Sinos, quase dois meses de precipitação em 30 horas. 

Como esse ciclone se compara com outros?

O sistema de quinta e sexta guarda semelhança com um ciclone da primeira semana de maio de 2008. Há quinze anos, a área mais atingida foi justamente a mesma: o Nordeste gaúcho. Tal como agora choveu excessivamente na capital, área metropolitana, vales e litoral com acumulados extremos acima de 200 mm em poucas horas. A diferença é que no ciclone de 2008 o vento foi muito mais forte e passou de 120 km/h em muitos locais, como Porto Alegre. 

El Niño favoreceu o ciclone?

Não é possível estabelecer tal correlação! Ciclones ocorrem em qualquer época do ano e estando o Pacífico neutro ou com El Niño ou La Niña. 

Teremos mais ciclones neste ano?

Muito provavelmente. Ciclones podem afetar o Rio Grande do Sul em qualquer época do ano, porém são mais comuns no inverno e na primavera. Se haverá um com tantos impactos como o de sexta somente é possível se prever dias antes.

Fonte: Jornal Correio do Povo

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