Aluna do IFRS representará o Brasil em premiação na Suécia: “Quero permanecer pesquisando para sempre”

Amanda durante o trabalho no laboratório Flávia Twardowksi / Divulgação TV Nativoos

Amanda Machado, 18 anos, desenvolveu o Biogrape, que utiliza resíduos da produção de vinho para remover corantes de efluentes da indústria têxtil

Um projeto de pesquisa de uma estudante de Ensino Médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) venceu a etapa nacional do Prêmio Jovem da Água de Estocolmo, e agora,  representará o Brasil na Suécia. Com uma alternativa sustentável para o tratamento de efluentes da indústria têxtil, Amanda Ribeiro Machado, 18 anos, desenvolveu o Biogrape, que utiliza resíduos da produção de vinho para remover corantes da água.

O prêmio é organizado pelo Stockholm International Water Institute (SIWI). A etapa final da premiação ocorre de 20 a 25 de agosto, em Estocolmo, na Suécia, durante a Semana Mundial da Água. Jovens pesquisadores de 40 países — entre eles, Amanda — passarão por avaliações online, em vídeo e, por fim, presencial. Eles concorrerão ao primeiro e segundo lugar e a uma votação popular.

A estudante ressalta que as expectativas estão “enormes” — não pelo prêmio em si, mas pela experiência.

— Acredito que vai ser algo muito diferente de tudo que já vivi. Falo para todo mundo que ainda estou pisando nas nuvens, ainda não estou acreditando que a gente vai, parece um grande sonho. É muito bom ver que o trabalho está dando resultado — afirma Amanda, animada.

Há empolgação também em relação à imersão em uma cultura diferente, acrescenta a jovem:

— E em mostrar o trabalho para o mundo, entrar em contato com jovens com o mesmo propósito: cuidar do nosso recurso mais precioso, a água. E a oportunidade única de viajar para outro país, com excelentes índices de inovação e sustentabilidade. Já é um grande prêmio poder ir para lá.

O que é o Biogrape

As roupas produzidas pela indústria passam por processos de tingimento, nos quais nem todo o corante é absorvido pelas peças. Cerca de 50% a 70% do produto acaba indo para o efluente e sendo desperdiçado, conforme a jovem pesquisadora. Para ser descartado e voltar aos lagos e rios, esse efluente precisa passar por um tratamento. Porém, a maioria dos tratamentos acaba gerando muitos resíduos, como o lodo. Em alguns casos, os efluentes contaminados podem parar diretamente no rio, sem passar pelo tratamento adequado.

— Isso acaba gerando uma grande fonte de contaminação e interferindo no ecossistema — explica Amanda.

Trata-se, portanto, de um problema ambiental. Além disso, dependendo do corante utilizado no tingimento, apenas 80% do corante consegue ser tratado, motivo pelo qual são necessários outros processos para conseguir retornar essa água para os rios, aponta a professora e orientadora do projeto, Flávia Twardowski, que é também diretora do Campus Osório.

É aqui que entra a pesquisa de Amanda, intitulada Biogrape: Inovação para o Tratamento de Efluentes Têxteis a partir de Celulose Bacteriana do Vinho. A estudante desenvolveu uma membrana biodegradável — produzida a partir de outros resíduos, provenientes da produção de vinhos, importante indústria gaúcha — para tratar os efluentes.

O tratamento desenvolvido culmina em menos resíduos, pois gera a membrana, que retém o corante. Assim, há duas possibilidades: a membrana pode passar por um processo que permite remover o corante e que ele seja reutilizado; ou, visto que é biodegradável, pode ser descartada no ambiente sem gerar problemas de contaminação ou utilizada em um novo processo de tratamento. Portanto, acaba sendo uma alternativa mais sustentável e uma nova forma de pensar o tratamento de efluentes.

— Não gera nenhum tipo de lodo contaminante. Esse é um dos grandes desafios para essa indústria também: tratar água contaminada com corantes e efluentes, mas sem gerar outro tipo de resíduo também contaminante — aponta Amanda.

A ideia surgiu a partir da busca por uma aplicabilidade após o desenvolvimento da membrana. Amanda fez pesquisas e viu que ela poderia ser utilizada para esse tratamento. Os testes foram realizados em laboratório, com efluentes coletados diretamente de indústrias gaúchas. Agora, com o reconhecimento do trabalho, as cientistas pretendem realizar planejamentos e parcerias para que a pesquisa seja testada em indústrias e colocada em prática.

Extasiada com os resultados alcançados, Flávia classifica como “incrível” o fato de o instituto ter alcançado a premiação pelo segundo ano consecutivo, sob sua orientação.

— Mostra que o instituto federal não só proporciona educação de qualidade, mas que os estudantes vivenciam a ciência ainda na educação básica. O caso da Amanda é mais especial ainda, porque ela veio para o IFRS antes do Ensino Médio, no Meninas na Ciência, criado para desmistificar que só meninos podem fazer ciência e mostrar que meninas também têm seu lugar de fala. Mas, principalmente, mostra que os jovens também podem pensar em soluções para problemas que eles mesmo identificam — afirma.

A professora destaca ainda o orgulho e a gratidão por poder auxiliar no desenvolvimento de estudantes não apenas na pesquisa, mas como seres humanos, em uma educação integral.

— O jovem, se souber e for incentivado, pode desenvolver habilidades escondidas nele, como pesquisa, música, esportes. Temos descoberto grandes jovens que gostam da ciência — complementa.

Transformada pela pesquisa

Amanda iniciou sua trajetória na pesquisa no nono ano do ensino fundamental, em um projeto de extensão do IFRS, antes de ingressar na instituição. Ela participou do projeto Meninas na Ciência. Seu amor pelo trabalho foi apenas crescendo com o passar dos anos.

— Conheci o mundo da ciência na primeira vez que entrei no laboratório e, desde então, não larguei — relembra.

No primeiro ano do Ensino Médio, passou a se envolver com o projeto do Biogrape. Para ela, essa pesquisa tem um grande significado, pois foi algo que “mudou totalmente” a sua vida.

— A pesquisa me deu principalmente autoconfiança e empoderamento, para saber onde é meu lugar. Entendi que meu lugar é o lugar que eu quiser estar, basta esforço e trabalho para conseguir. Estou mais confiante sobre mim mesma e sobre enxergar em quais lugares posso chegar — orgulha-se.

A estudante concluirá o Ensino Médio neste ano, como técnica em Administração. O projeto, então, poderá ser assumido ou servir como base para outros jovens pesquisadores. O próximo passo será ingressar no curso de Engenharia Mecânica — e Amanda quer continuar envolvida com pesquisas.

— É algo que me apaixonei desde o início, não quero largar. Quero permanecer pesquisando para sempre — enfatiza.

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