Ausência de Leandro Boldrini marca o segundo dia do seu julgamento em Três Passos
Pai de Bernado Boldrini passou mal duas vezes e não acompanhou depoimentos de testemunhas que se emocionaram
O segundo dia de julgamento de Leandro Boldrini, acusado por ter participado da morte do próprio filho, Bernado, de 11 anos, em 2014, foi marcado justamente pela ausência do réu. O médico passou mal um pouco antes de iniciar a sessão do júri no Foro da Comarca de Três Passos, por volta das 8h30. A defesa informou que ele estava no Fórum, mas não tinha condições de estar presente no plenário. Um grito seu foi ouvido, ainda na rua. Após mais uma crise nervosa, ainda pela manhã, o pai da vítima foi levado para a Penitenciária Modulada de Ijuí após o meio-dia.
A testemunha chamada pela manhã foi a delegada regional de Três Passos, Cristiane de Moura e Silva Braucks. Em seu testemunho, ela revelou um pouco mais da relação de Leandro com o filho, baseada no descaso e indiferença da família. Inicialmente, logo depois do início das investigações pelo até então desaparecimento de Bernardo, a policial comentou que o menino não tinha sequer roupas compatíveis com a boa situação financeira do médico. “Não andava na rua se vestindo adequadamente. Ele se sentia abandonado, implorava por carinho”, contou.
Segundo a delegada Cristiane, conforme as apurações iam avançando, as versões dos suspeitos mudavam. “Eram várias as contradições”, complementou. O ponto chave para a Polícia Civil foi dado por Edelvânia Virganovicz, que se sentia sufocada com que havia acontecido e revelou que Bernardo estava morto. “Em novo depoimento de Edelvania, a assistente social fez a revelação: ‘O Bernardo está vivo?’, perguntei. Ela disse ‘não’. Ela se sentia sufocada com tudo aquilo. E então nos levou onde ele havia sido enterrado”, explicou.
A depoente recordou um período em que Bernardo ainda estava vivo e comentou uma audiência na Justiça em que foi determinado que Leandro Boldrini teria 90 dias para restabelecer o vínculo com o filho. Isto teria deixado a madrasta Graciele insatisfeita. “Graciele ficou irritada”, lembrou a delegada. Já, o menino ficou feliz porque poderia brincar com a irmã: “Ele a amava”, disse Cristiane. A partir disso, Graciele então teria abordado Leandro com um ultimato. “Graciele ‘colocou Boldrini na parede’, no sentido de ‘ou ele (Bernardo) ou eu’. E o Leandro escolheu a ela”, revelou a policial.
Menino querido e rebelde
Na parte da tarde, depôs a ex-secretária do consultório de Boldrini, Andressa Wagner, que pediu para não ter sua imagem divulgada. Neste momento, a transmissão pela internet do julgamento pelo Tribunal de Justiça foi interrompido. “O pensamento do povo é cruel. Pelo que fizeram comigo”, diss ela, que chegou a ser apontada como a pessoa que escreveu a carta de despedida de Odilaine Uglione, mãe do garoto, que se suicidou em 2010. A ex-secretária, que, chorou ao lembrar do caso, foi inocentada durante a investigação.
Segundo Andressa, Bernardo era querido, ao mesmo tempo, era rebelde. “Talvez por falta de carinho e atenção da família. Um final de semana, ficou na minha casa”, conta. A testemunha disse que nunca o viu maltrapilho. Sobre a escola, lembra que recebeu uma ligação, uma vez, porque o menino não havia feito um trabalho. “Eu acabei fazendo o trabalhinho”. Ela também afirma ter levado o filho de Boldrini em consultas médicas. A ex-secretária sabe que Bernardo tomava medicamentos mas não disse desconhecer de qual remédio se tratava.
A primeira vez que viu o menino foi recordada por Andressa. “Eu trabalhava em uma farmácia quando vi o Bernardo a primeira vez, em 2009, com Odilaine, mãe dele, que era cliente”, diz Andressa. “A Kelly (Graciele) já conhecia quando eu já estava no consultório, em 2010. Eles (Leandro e Graciele) já estavam juntos”. A testemunha também falou sobre a relação entre o garoto e a madrasta. “No início, era boa. Quando ela ficou grávida, as coisas começaram a mudar”, contou a depoente.
Perguntada sobre receitas médicas, Andressa relata que Boldrini chegava a deixar receitas em branco assinadas por ele. “Era para determinadas situações. Ele deixava na gaveta”, lembra, sem se recordar de dar falta de alguma receita de midazolan – medicamento utilizado em uma superdosagem na morte de Bernardo. A ex-secretária acreditava ver uma boa relação entre o filho e o pai, que não tinha o costume de demonstrar emoções e mal levantava a voz.
Emoção da “Tia Ju”
A quarta testemunha deste julgamento, terceira do dia, a transmissão do TJRS pela Internet foi restaurada, com o depoimento de Juçara Petry, a “Tia Ju”, como o vizinho Bernardo a chamava. Seu depoimento foi marcado pela emoção, em diversos momentos. A comerciante diz que Bernardo “era muito inteligente e ia longe”. A sessão precisou ser interrompida quando foi questionada sobre a última vez que o viu.
Juçara estranhou quando Boldrini perguntou pelo filho quando estava desaparecido. “Ele nunca nos ligava para saber como estava”, diz a testemunha. Segundo a “Tia Ju”, o quarto que ela arrumou para o Bernardo quando ele ia para sua casa continua com as coisas do menino lá, até hoje. “O último aniversário, última Páscoa e o último Dia dos Pais dele foi na minha casa”, revelou.
Nesta quarta-feira será ouvida a psicóloga que tratou Bernardo, Ariane Schmitt, quinta e última testemunha arrolada pela acusação. Na sequência, serão ouvidos depoentes da defesa.
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