Osório – Entre curvas e obstáculos, ciclistas praticam downhill em uma trilha no meio do Morro da Borrússia


Percurso tem quase 2 quilômetros e começa próximo do pico do morro

Para a maioria das pessoas, ter uma pedra no caminho pode soar como uma expressão de que algo está causando um empecilho. Porém, para esses atletas, é sinal de que vem pela frente só mais um item dentro de um percurso cheio de ação. É o caso de um grupo de ciclistas de mountain bike (MTB) downhill gaúchos que percorre descidas de montanhas e vales, como o famoso Morro da Borrúsia, em Osório, no Litoral Norte.  

Praticado desde 2008 na localidade, o percurso começa em uma altura de 300 metros, junto da rodovia que dá acesso ao mirante, e segue por 1,8 quilômetros de descida entre curvas e saltos até chegar no ponto final, no pé do morro. Mesmo sendo um espaço público, todo o caminho é cuidado pelos próprios ciclistas, que procuram manter o espaço limpo e seguro. Ao longo do percurso, os ciclistas enfrentam as pedras e uma série de outros obstáculos, como galhos, cipós, raízes, buracos, barro e até teias de aranhas. 

— O segredo é realmente sentir a adrenalina e ter o amor ao esporte. Só quem pratica essa modalidade sabe como é ter essa sensação bacana — afirma Tiago Lumertz dos Santos, conhecido como Bolacha, que dirige o grupo intitulado Camptrail Atac.  

O trajeto é repleto de ladeiras inclinadas desde o início. E não para por aí: quando uma descida acaba, vem uma curva fechada, com solo escorregadio e pedras soltas. Em seguida, aparecem galhos, pedras maiores, buracos e até rampas que garantem saltos. Tudo isso em uma trilha de mata fechada que corta o morro de cima a baixo.  

Atualmente, 20 atletas participam da associação, que tem sede em Taquara, no Vale do Paranhana, mas possui membros de diversos locais do Estado. O termo Atac é uma sigla derivada da Associação Taquarense de Amigos Ciclistas, que tem a trilha na Borrússia como um espaço frequente das suas reuniões.   

Conforme Bolacha, o grupo visa não só a prática recreativa, mas também tem o intuito de se preparar e participar de competições oficiais. As disputas incluem campeonatos regionais, nacionais e até internacionais, divididas por categorias individuais de idade e critério técnico, além das etapas por equipe.  

Um dos certames que a Camptrail Atac participa é o Campeonato Gaúcho de MTB Downhill, organizado pela Federação Gaúcha de Ciclismo. A próxima etapa ocorrerá em Sapiranga, no Vale do Sinos, nos dias 4 e 5 de abril. Já no dia 15 de abril, Bolacha irá à Argentina para representar o time na disputa do mundial master.  

Parcerias que se renovam

Entre uma competição e outra, as pedaladas pelo Morro da Borrúsia são utilizadas para treino e, acima de tudo, reunir os amigos. Os parceiros Camptrail se encontram próximo do ponto onde a trilha termina. Depois, carregam as bicicletas em caminhonetes e sobem o morro todos juntos até o início do trajeto.  

— Ter o grupo unido é poder ajudar um ao outro. Desde a alimentação, até montar a estrutura dos campeonatos — exalta Bolacha. 

Com o passar do tempo, é comum que a equipe tenha novos membros. A maior parte deles são pessoas que já praticavam o esporte individualmente e que são chamados para compor o grupo, ou então quem tem experiência prévia e está começando na modalidade. O caso mais recente é do estudante Luiz Felipe Stachlewski, de apenas 15 anos, que já se arrisca nas descidas íngremes do morro.  

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Fonte: Gaucha ZH

— Eu vim de Bagé para morar em Osório com minha família. Já andava há sete anos de bicicross, uma outra modalidade. Então, quando soube que existia esse grupo de downhill, comecei a adaptar a minha bicicleta e pensei: “Vou lá descer o morro também” — diz o jovem, empolgado já que era a primeira vez que acompanhava o grupo no percurso.  

Bikes preparadas 

A adaptação da bicicleta citada por Luiz Felipe é necessária a todos que pretendem encarar o esporte. No downhill, praticamente toda a estrutura do veículo é alterada.  

A bicicleta passa a ter uma diferença de amortecedores em relação às utilizadas para passeio. Enquanto uma comum possui de 80 a 100 milímetros na peça, uma bike de downhill chega a 200 milímetros para garantir uma melhor proteção dos impactos em saltos e pedras grandes.  

Também devido à grande presença de pedras nas trilhas, é feito um reforço no aro das rodas para evitar eventuais furos nos pneus. Além disso, é preciso ter freio a disco hidráulico, quadro reforçado e uma geometria especial pensada para a decida.