Adultização nas redes – Alerta de youtuber sobre efeitos da exploração de menores abre debate e mobiliza o Congresso.

O Fenômeno da “Adultização” nas Redes Sociais e Seus Impactos
Com quase 30 milhões de visualizações no YouTube, o humorista Felipe Breassa, conhecido como Felca, levantou um debate importante nas redes sociais sobre a “adultização” de crianças e adolescentes. Em um vídeo recente, Felca expôs casos de exploração de menores em situações constrangedoras e de sexualização precoce, com o intuito de gerar lucro nas plataformas digitais. A discussão, que envolve o impacto psicológico desses conteúdos na infância, logo extrapolou o ambiente online e chegou ao Congresso Nacional.
O Que é “Adultização”?
O termo “adultização” refere-se à exposição de crianças e adolescentes a comportamentos e responsabilidades típicas de adultos. No vídeo, Felca detalha exemplos de influenciadores e canais brasileiros que utilizam essa fórmula para aumentar a visibilidade e, consequentemente, a monetização. Entre os casos mencionados está o do influenciador Hytalo Santos, que é investigado pelo Ministério Público da Paraíba desde 2024 por exploração de menores em suas redes sociais, embora ele negue as acusações.
Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), explica que a “adultização” envolve a erotização precoce e a exploração monetária de crianças e adolescentes, além da promoção de situações vexatórias. Para ela, o problema não surgiu com a internet, mas a plataforma digital acelerou e ampliou seu alcance, tornando-se um terreno fértil para essa prática.

A Necessidade de Regulação nas Plataformas Digitais
O advogado João Francisco Coelho, do Instituto Alana, enfatiza que o ambiente das redes sociais tem se tornado propício para a violência contra menores de idade. Ele alerta que a falta de regulamentação e transparência nos algoritmos das plataformas permite que conteúdos prejudiciais sejam amplificados, muitas vezes sem a devida responsabilidade.
“Precisamos superar esse modelo de negócios que coloca a atenção e o engajamento acima da proteção da criança e do adolescente”, afirma Coelho. A pressão sobre as plataformas digitais tem crescido, e a discussão tem ganhado apoio tanto de representantes do governo quanto de setores da oposição. Gleisi Hoffmann (PT-RS) defende a responsabilização das plataformas para que a internet não seja usada como uma “arma” por pedófilos e criminosos, enquanto Damares Alves (Republicanos-DF) sugeriu a criação da “Lei Felca” para combater a erotização infantil.
Propostas de Regulação
No Congresso, surgiram ao menos sete projetos de lei que buscam combater a exploração e a sexualização de menores na internet. Uma das propostas mais avançadas é de 2022, protocolada pelo senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que proíbe o uso de dados de crianças para publicidade direcionada e regulamenta a coleta de dados pessoais em plataformas digitais.
Filipe Medon, da FGV Direito, acredita que as propostas precisam, além de regulamentar as plataformas, promover uma educação midiática para as crianças, incentivando a conscientização sobre os riscos que elas enfrentam na internet.
Impactos Psicológicos de Exposições Precoces
Especialistas apontam que a exposição precoce pode trazer consequências psicológicas duradouras. A psicóloga Valéria Thiers, professora da PUC-RS, alerta que os jovens que postam nas redes sociais não têm plena consciência dos danos imediatos dessas ações, concentrando-se apenas no ganho de visualizações e interações. Esse comportamento ativa o sistema de recompensa do cérebro, criando um ciclo que pode prejudicar o desenvolvimento emocional e social das crianças.
Thiers compara a exposição de menores na internet a situações passadas envolvendo artistas que começaram suas carreiras ainda crianças, como Lindsay Lohan e Macaulay Culkin, e que enfrentaram consequências negativas devido à falta de preparação para lidar com o assédio público.
A Resposta das Plataformas
Em resposta à crescente pressão, as principais plataformas de redes sociais, como Meta (Facebook e Instagram), YouTube e TikTok, afirmam que têm políticas de segurança para proteger menores de conteúdos prejudiciais. A Meta disse que está removendo ativamente conteúdos de exploração sexual e abuso infantil, enquanto o YouTube afirmou que a segurança infantil é uma prioridade e que não permite conteúdo que prejudique o bem-estar de menores. O TikTok, por sua vez, garante que possui uma equipe dedicada à moderação de conteúdos, priorizando a proteção dos jovens.
O Desafio de Regulamentar as Big Techs
Renata Mielli defende que as grandes empresas de tecnologia devem ser cobradas para que atuem em conformidade com as normas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ela destaca que a regulamentação do uso da imagem de menores nas redes sociais, especialmente quando os responsáveis pela criança são também os donos das contas, é um dos maiores desafios.
Conclusão
O debate sobre a “adultização” nas redes sociais é apenas o começo de uma discussão mais ampla sobre como as plataformas digitais devem ser reguladas para garantir a proteção de crianças e adolescentes. A sociedade precisa refletir sobre o modelo de negócios das big techs, que priorizam a monetização em detrimento da segurança dos menores. Especialistas e autoridades continuam a trabalhar para encontrar um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a proteção dos direitos fundamentais das crianças na era digital.
Com informações de O Globo
Se inscreva em nosso canal do youtube.com/@tvnativoos, curta nossa página no facebook, instagram e veja nossa pelo portal http://www.tvnativoos.com.br