Boletim BRICS Brasil #67 – Cúpula do BRICS no Brasil marca virada de jogo do Sul Global no cenário internacional

Reportagem: Inez Mustafa e Leandro Molina / BRICS Brasil
Sob as táticas brasileiras, o BRICS, com elenco ampliado, jogou junto e marcou gols históricos em clima, IA e saúde. Com 39% do PIB mundial, o grupo prova que o Sul Global não é mais coadjuvante e está ditando o ritmo do desenvolvimento sustentável, com a arquibancada participando da partida. Ouça a reportagem especial do BRICS e saiba mais.
Repórter: E se o Sul Global estivesse disputando o campeonato mais importante do século? Antes do apito inicial, vamos entender quem compõe o time do Sul Global. São países do Hemisfério Sul com histórico de colonização, desigualdades e economias em desenvolvimento, mas que hoje jogam no mesmo esquema tático, o grupo do BRICS. Em 2025, o Brasil foi o técnico dessa seleção inédita na Cúpula de Líderes do BRICS, nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. Pela primeira vez, Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e os novos reforços – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Irã, Etiópia e Indonésia – entraram em campo sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. Cada passe dessa partida define o futuro de 3,6 bilhões de pessoas – quase um estádio planetário.
Vamos ouvir o capitão da equipe brasileira, o embaixador e sherpa Mauricio Lyrio, que coordenou as estratégias junto aos sherpas dos outros 10 países, falando da importância do Sul Global jogar junto, para driblar as desigualdades socioeconômicas entre os países.
Mauricio Lyrio: O Sul Global jogar junto é simplesmente os países reconhecerem que têm problemas, vamos dizer assim, parecidos, porque são países em desenvolvimento e justamente atuarem de forma conjunta, para enfrentar esses problemas. O jogar junto, na verdade, aproveitar as nossas capacidades em diversas áreas para que a gente tenha efeitos coletivos, conjuntos, ampliados, para favorecer a população de forma geral.
Repórter: Mas o time sofreu faltas duras em 2025. Acusado de ser “anti-ocidente”, o BRICS deu o drible de corpo do diplomata Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e atual assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República do Brasil, que deu a letra dizendo que o BRICS não era “nem Ocidente, nem Oriente, mas Sul Global”.
Celso Amorim: O BRICS é um grupo de países em desenvolvimento que quer a prosperidade, mas que é a paz também. E eu acho que a busca principal no mundo que nós estamos vivendo hoje é a busca da paz. O BRICS é o novo nome do desenvolvimento.
Repórter: E, no início da 17ª “Partida” de Líderes do BRICS, o presidente brasileiro e técnico da seleção, Luiz Inácio Lula da Silva, não deixou dúvidas sobre a tática histórica: o BRICS é herdeiro do Movimento Não-Alinhado, que rejeitou a divisão do mundo em blocos, o capitalista e socialista, durante a Guerra Fria.
Presidente Lula: A Conferência de Bandung refutou a divisão do mundo em zonas de influência e avançou na luta por uma ordem internacional multipolar. O BRICS é herdeiro do Movimento Não-Alinhado.
Repórter: Sob a liderança brasileira, o BRICS não foi um jogo isolado, mas um campeonato completo: mais de 200 reuniões em áreas como saúde, Inteligência Artificial e clima. O embaixador Mauricio Lyrio detalha os gols marcados.
Mauricio Lyrio: Negociamos uma declaração na área de saúde sobre a eliminação de doenças socialmente determinadas, são doenças da pobreza. Também uma declaração sobre Inteligência Artificia, que é um tema hoje marcante na vida de todos, porque tem efeitos muito concretos na realidade de cada um. E também uma negociação sobre clima, porque um dos nossos objetivos é justamente ter um BRICS que se empenhe pelo sucesso da COP no Brasil e pelo combate à mudança do clima.
Repórter: Mas, há quanto tempo, o BRICS tem jogado junto? A Liga do BRICS começou em 2009, pós-crise financeira de 2008 – quando Brasil, Rússia, Índia e China viram que precisavam trocar passes contra as desigualdades. Hoje, a estratégia inclui um contra-ataque financeiro com moedas locais nas transações comerciais entre os países do grupo, que não tem nada a ver com desdolarização da economia mundial. Quem explica melhor esse tema que gera muita disputa em campo é a embaixadora e secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda do Brasil, Tatiana Rosito.
Tatiana Rosito: O comércio em moeda local, uma maior utilização de moedas locais para facilitar comércio e investimento, é algo que já vem ocorrendo, por exemplo, entre o Brasil e a China. Em geral, a utilização das moedas locais é mais dificultada por uma questão de custos. É muito mais fácil você usar as principais moedas, que têm mais liquidez no mercado. Então, sempre foi um objetivo do BRICS ampliar a utilização de moedas locais naquilo que for reduzir custos e que for interessante para os países do BRICS, que for positivo para importadores e exportadores.
Repórter: Bom, falar de melhoria da economia e de desenvolvimento social é falar de dinheiro. É aí, que o Banco do BRICS entra em campo, dando maior autonomia financeira aos países em desenvolvimento e financiando projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável para os países do BRICS e outras nações em desenvolvimento. Dilma Rousseff, presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, explica.
Dilma Rousseff: Desde a sua criação, o NDB foi construído sobre uma clara premissa, a de que os países do Sul Global, os países membros dos BRICS, têm o direito, bem como a capacidade de definir seus próprios caminhos de desenvolvimento, que a infraestrutura, a modernização industrial e tecnológica e a sustentabilidade deveriam ser financiadas, não por meio da imposição de modelos uniformes, mas sim impulsionando a justiça social, promovendo a soberania e o crescimento sustentável.
Repórter: Estamos aqui o tempo todo falando que as decisões e os resultados das partidas dos países do BRICS impactam a sociedade, mas sei que você se perguntou onde é que o povo, a arquibancada, a torcida entre em campo para debater e negociar? No grupo do BRICS, não poderia faltar a participação social, e quem explica o momento exato que o povo entra em campo é Gustavo Westmann, chefe da Assessoria Internacional da Secretaria-Geral da Presidência da República e coordenador do eixo People 2 People.
Gustavo Westmann: A gente está buscando, com base na experiência que a gente acumulou nos últimos anos, assegurar que a sociedade chegue a participar de todos os processos decisórios. Uma coisa que fica cada vez mais clara é que para a sociedade civil, hoje em dia, não basta mais só estar lá. Você tem que estar lá e você quer incidir, você quer fazer parte daquilo. Isso é uma tendência global e que no Brasil está muito forte durante o terceiro mandato do presidente Lula.
Repórter: Em 2023, o time que já vinha goleando fez uma expansão histórica: de 5 para 11 jogadores. Agora, o BRICS representa 39% do PIB global. O embaixador da Etiópia no Brasil, Leulseged Abebe, importante jogador da Liga, que participou de quase todas as reuniões do time, celebra a titularidade.
Leulseged Abebe: Queríamos elevar nossos laços econômicos com todas as famílias do BRICS para o próximo nível, para o nível mais alto. Portanto, acreditamos que a filiação da Etiópia à família BRICS fortaleceria a plataforma e também beneficiaria a Etiópia na diversificação de sua parceria em termos de comércio, turismo, investimento e financiamento do desenvolvimento. Estamos prontos para trabalhar em estreita colaboração com o Brasil e com todos os outros membros do BRICS, incluindo os novos membros.
Repórter: No apito final da Cúpula de Líderes, no Rio de Janeiro, o BRICS levantou quatro troféus, a Declaração Conjunta da 17ª Cúpula do BRICS e mais três declarações temáticas: sobre financiamento climático, governança global da Inteligência Artificial e Parceria para a Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas. O jogo mudou, e o Sul Global não está mais no banco de reservas. Ele está levando a pauta dos países emergentes para o mundo, discutindo desenvolvimento sustentável, erradicação da pobreza e reforma da governança global. Acompanhe o site brics.br para saber as próximas jogadas da Liga Mundial do BRICS.
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