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Expodireto 2025 - Vacas do Pavilhão da Produção Animal Cotrijal | Foto: Camila Cunha

Inteligência artificial na produção leiteira

Universidade de Passo Fundo prepara-se para desenvolver pesquisa inédita no Rio Grande do Sul, a qual pretende monitorar a saúde animal a partir do uso de algorítimos e tecnologias que analisem amostras do leite

No campo, cada detalhe faz a diferença para reduzir as perdas, aumentar a produtividade e a rentabilidade. Com olhar voltado para o futuro, a Universidade de Passo Fundo (UPF) prepara-se para utilizar a inteligência artificial como ferramenta estratégica em uma pesquisa inovadora. A iniciativa pioneira da universidade no Rio Grande do Sul foi contemplada com R$ 2 milhões em recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para a montagem do laboratório multidisciplinar que vai utilizar algoritmos combinados com tecnologia para diagnósticos antecipados da saúde das vacas, por meio da coleta de amostras de leite.

O coordenador do curso de Medicina Veterinária da UPF, professor Carlos Bondan, lidera o projeto de pesquisa e explica que o leite é um fluido orgânico, a exemplo do sangue que é utilizado para apurar doenças através da análise de laboratório.

“Vamos analisar inclusive parâmetros que não são muito frequentes e solicitações por parte dos produtores”, adianta, acrescentando que as novas avaliações têm potencial de identificar problemas nas fêmeas leiteiras, principalmente aqueles relacionados ao metabolismo e, às condições nutricionais, além das doenças infecciosas.

“É um primeiro passo desafiador. Porque vamos precisar de amostras individuais por vaca e atualmente o controle leiteiro no Brasil não é realizado de uma forma tão intensa e corriqueira como em outros países”, explica Bondan. Segundo ele, isso já é comum no Canadá, Estados Unidos e alguns países da Europa. “Na Holanda, uma vez por mês, os produtores coletam o leite das vacas em ordenha para esse tipo de análise, tendo informações individuais de cada exemplar. Então consegue-se, por vezes, até antever um problema sanitário prestes a ocorrer”, sublinhou.

Com o projeto, o coordenador do curso de Medicina Veterinária da UPF antecipa que se quer ir além, inclusive, com um prognóstico de uma doença subclínica nas fêmeas em virtude de indicadores já existentes. “A intenção é mostrarmos problemas que irão resultar em perdas. Seja de bem-estar, produtiva ou de qualidade do leite”, explica. Bondan, ressalta que as variações do clima e do solo em que o alimento foi cultivado (para as vacas leiteiras) são alterações que também podem trazer comprometimentos para a produtividade, a qualidade e a saúde dos animais. “Por isso, criaremos um banco de dados onde municiaremos com as mais diferentes informações. É aí que entra a inteligência artificial, avaliando estatisticamente um problema que vamos determinar”, detalha.

De acordo com Bondan, o objetivo final do projeto é bem audacioso se a cadeia láctea se somar a ideia, que é fazer com que o Rio Grande do Sul seja positivamente diferenciado no setor. “Tornar o nosso leite conhecido como o melhor em termos de qualidade, produção e rentabilidade do Brasil”, afirmou. Para isso, a intenção é criar uma ferramenta em que todos os atores do sistema produtivo gaúcho possam ter acesso, tanto o produtor, quanto os técnicos e a indústria.

Nessa direção, o professor Carlos Bondan adianta que será criada uma inteligência artificial específica para o projeto. “Não compraremos nenhum software ou metodologia. Serão desenvolvidos única e exclusivamente pela Universidade de Passo Fundo”, garante. Bondan detalha que as equipes de trabalho já estão formadas e que a iniciativa aguarda apenas a licitação para a aquisição de equipamentos de alto valor. “O projeto em si tem um orçamento de R$ 5 milhões, mas com os recursos que obtivemos com a Finep já conseguiremos iniciá-lo”, pontuou.

O coordenador do curso de Medicina Veterinária da UPF antecipa ainda que a expectativa é de que as primeiras conclusões e resultados do projeto sejam apurados no período de dois a cinco anos. “Vai depender muito da aderência da cadeia láctea porque eu não consigo produzir informação se não tenho dados, análise de leite. E não é avaliação do tanque refrigerador do leite, embora esse também seja importante, mas não mais do que as análises individuais”, sublinhou.

Bondan destaca que quanto mais propriedades leiteiras participarem mais robusto será o banco de dados e mais assertiva será a inteligência artificial. “Precisaremos de rebanhos distribuídos em diversas regiões do Rio Grande do Sul. Existem muitas diferenças edafoclimáticas (de clima e solo) que compreendem desde a temperatura, o índice pluviométrico, o solo, as plantas. As condições particulares de uma determinada região ou microrregião influenciam o leite”, explica.

O professor acredita que o conjunto de informações do banco de dados e suas correlações poderá auxiliar na tomada de decisões do produtor rural para entregar um leite ainda melhor. “Temos uma preocupação muito grande com o setor produtivo do leite. Entendemos que é muito importante para as economias locais e do Estado do Rio Grande do Sul”, conclui. Bondan chamou atenção para o fato de o alimento gaúcho possuir qualidade e sua produção seguir uma série de legislações rígidas, estabelecidas por órgãos federais, estaduais e municipais. “Queremos torná-lo ainda melhor. Tudo evolui e o produtor não pode ficar obsoleto no uso de tecnologia pois isso pode refletir diretamente na sua receita e ganho”, finaliza.

Fonte: Jornal Correio do Povo

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