Leandro Boldrini é condenado a 31 anos e 8 meses de prisão pela morte do menino Bernardo


Sentença no segundo julgamento do réu em Três Passos foi proferida pela juíza Sucilene Englear Audino

Após quatro dias de julgamento, o médico Leandro Boldrini foi condenado a 31 anos e 8 meses de prisão nesta quinta-feira pela morte de seu filho, Bernardo Boldrini, em 2014. A sentença no segundo julgamento do réu em Três Passos foi proferida pela juíza Sucilene Englear Audino. O Tribunal do Júri entendeu que Leandro Boldrini é culpado pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e falsidade ideológica. Boldrini foi absolvido do crime de ocultação de cadáver.

Bernardo desapareceu em Três Passos e seu corpo foi encontrado dez dias depois, em uma cova vertical às margens de um rio, em Frederico Westphalen. Além de Leandro, anteriormente foram condenados em outro julgamento Graciele Ugulini (madrasta de Bernardo), Edelvania Wirganovicz (amiga de Graciele) e Evandro Wirganovicz (irmão de Edelvania).

Boldrini já havia sido julgado e condenado em 2019, a 33 anos e 8 meses de prisão, juntamente com os outros três acusados. Uma decisão da 1ª Câmara Criminal do TJRS, em dezembro de 2021, no entanto, anulou o julgamento. 

O segundo julgamento foi marcado pela emoção de testemunhas, por protestos e pela ausência do réu nas sessões. Além disso, por indicação da defesa, Leandro não respondeu aos questionamentos. Na segunda-feira, a promotoria apresentou áudios e vídeos que mostravam a relação conturbada entre pai e filho. Em uma das gravações caseiras, Bernardo aparecia gritando “socorro” em repetidas ocasiões. Em certo momento, o réu pediu para sair da sala para voltar em seguida. 

Em outra ocasião, o médico chegou a esboçar um choro contido. Uma conversa entre Bernardo, pai e madrasta prosseguiu na apresentação da promotoria. O menino foi ofendido verbalmente pelos adultos e diz que o pai o agrediu. Descontrolado, o menino desejou que o “pai morresse”. É este áudio em que ela afirma ao enteado “tu não sabe do que sou capaz de fazer”. Leandro Boldrini chegou a repetir negativas com a cabeça e engoliu seco diversas vezes. Mordeu as unhas e se movia na cadeira demonstrando nervosismo. Bernardo foi ouvido novamente na gravação, como se tivesse sido dopado, falando com dificuldade.

Ausência

Na terça-feira, o médico passou mal um pouco antes de iniciar a sessão do júri. A defesa informou que ele estava no Fórum, mas não tinha condições de estar presente no plenário. Um grito seu foi ouvido, ainda na rua. Após mais uma crise nervosa, ainda pela manhã, o pai da vítima foi levado para a Penitenciária Modulada de Ijuí após o meio-dia.

Quarta a ser ouvida nesse dia, a “Tia Ju”, como o vizinho Bernardo a chamava, deu um depoimento repleto de emoção. A comerciante Juçara Petry diz que Bernardo “era muito inteligente e ia longe”. A sessão precisou ser interrompida quando foi questionada sobre a última vez que o viu. 

Juçara estranhou quando Boldrini perguntou pelo filho quando estava desaparecido. “Ele nunca nos ligava para saber como estava”, disse a testemunha. Segundo a “Tia Ju”, o quarto que ela arrumou para o Bernardo quando ele ia para sua casa continua com as coisas do menino lá, até hoje. “O último aniversário, última Páscoa e o último Dia dos Pais dele foi na minha casa”, revelou.

“Órfão de pai vivo”

Já na quarta-feira, quando Boldrini esteve novamente ausente, o testemunho da psicóloga Ariane Schmitt trouxe novas revelações sobre como era o convívio do menino com o pai. “Órfão é a palavra mais feia do dicionário. Bernardo era órfão, também, de pai vivo”, lamentou. A profissional afirmou que chegou a notar que Bernardo, por vezes, comparecia às sessões em um estado incomum para uma criança. “Ele compareceu a algumas sessões dopado, com dificuldade para falar. Febril também”. Sobre um vídeo apresentado no júri ainda na segunda-feira, ela comentou sobre as “60 gotinhas” que o pai sugere dar ao filho durante a gravação. “Coca-Cola que não é”, disse a profissional.

Conforme o relato, percebia-se a falta de interesse da família. “Falei com os dois (Leandro e Graciele), os alertei sobre os problemas. No primeiro atendimento, o Bernardo veio três ou quatro vezes. Na segunda vez, foram outras três sessões. Aí, o menino já vinha sozinho. Ninguém nem o trazia”, pontuou.

Defesa 

Testemunha arrolada para defesa, Marlise Cecília Renz, ex-funcionária de Boldrini, teceu muitas críticas à madrasta de Bernardo nessa quarta-feira. “O Leandro se escorou na parede e me contou sobre a intimação de que teria que vir até o Fórum porque o Bernardo tinha procurado a Justiça para não conviver com a família. E me disse ‘eu tive uma mulher e essa (Graciele) é louca também”, recorda. “Não sei se o Leandro era dominado por Graciele, mas a Kelly era sabida na história que ela queria gerar. Quando o fato aconteceu, as pessoas me cobravam que eu tivesse que ajudar mais o Bernardo. Ele era magrinho, pequenininho”, se emocionou. 

Bastante nervosa, a ex-babá de Bernardo, Lore Heller, começou o depoimento dizendo que “Leandro era um bom pai”, no tempo em que trabalhou na casa da família. Alegando ter pouca memória dos ocorridos e estar com problemas de saúde, a testemunha foi dispensada com parcos minutos de testemunho.

O primo de Leandro Boldrini, Andrigo Rebelato, encerrou o rol de testemunhas arroladas pela defesa. O depoente, que é advogado, representa Leandro em uma causa cível e em outra patrimonial, explanou sobre a proximidade com o réu. “Tivemos convivências muito próximas. Se pegar uma foto do meu aniversário de um ano, ele estava lá”, conta.

Rebelato revela o que falou com Boldrini, já preso. Perguntando se o médico tinha alguma culpa na morte do filho, ouviu: ‘Não! Sou inocente, tão vítima quanto Bernardo'”, reproduziu a testemunha. No quarto dia, após o encerramento dos depoimentos, o julgamento recomeçou com os debates entre acusação e defesa antes da reunião do conselho de sentença. 

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Fonte: TJRS e jornal Correio do Povo