Colapso em Porto Alegre estressa sistema viário e mostra cidade “refém das águas”

Com principais vias de acesso alagadas, Capital precisou correr para abrir corredor humanitário e eixos secundários sofrerem com intensa movimentação | Foto: Fabiano do Amaral

Com principais vias de acesso alagadas, Capital precisou correr para abrir corredor humanitário e eixos secundários sofreram com intensa movimentação

A tormenta da enchente deixou Porto Alegre sem suas principais vias de acesso e saída para outras cidades no Rio Grande do Sul. Com as águas do Guaíba avançando pela Região Metropolitana, o colapso na Capital estressou o sistema viário e mostrou um município refém do nível das águas que descem por vales e rios.

No auge das cheias e da elevação do Guaíba, a BR-116, a BR-290 e a BR-448, eixos principais que ligam a Capital à Região Metropolitana, ficaram bloqueados e sem qualquer alternativa, conforme apontado por estudo da Ufrgs. Essa situação pressionou os chamados “eixos secundários”: RS-118, RS-240, BR-386 e a RS-040. Mais forçadas, a RS-118 e a RS-040, que ligam a cidade ao Litoral passando por Viamão e Gravataí, sofreram com longas filas de carros, pouca iluminação e transtornos por se tratar de uma via de mão única na maior parte do trecho.

Secretário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre, Adão de Castro Júnior, reconhece os problemas enfrentados em alguns pontos do sistema viário da Capital, mas reitera que não existiria planejamento capaz de enfrentar “a maior tragédia climática da história” do Rio Grande do Sul.

“A RS-118 tem um projeto de duplicação. Ela é uma via com o nível de serviço que chamamos de E e F. Está saturada. Ainda temos uma obra em Gravataí. Isso atrapalha o trânsito”, explica. O chefe da pasta, entretanto, pondera: “não existe sistema viário que pudesse dar contingência. A Região Metropolitana foi brutalmente atingida. Isso colapsa qualquer sistema”.

A alternativa encontrada pelas autoridades foi a abertura de um corredor humanitário em uma área de grande tráfego, entre a rua da Conceição e a avenida Castelo Branco, ao lado da Rodoviária de Porto Alegre. Além deste, foi implementado outro corredor nestes moldes, o que acaba por evidenciar a ausência de outras saídas eficientes. No sentido capital-interior, a nova via liberada nesta terça-feira ligará quem vem pela avenida Oswaldo Aranha, cruzando o túnel da Conceição, e passará em frente da rodoviária até a chegada na av. Castelo Branco.

“Deveríamos ter outras alternativas”

O secretário avalia que a Capital precisa pensar futuramente em uma terceira alternativa entre a av. Assis Brasil e a RS-118 para “escoar o trânsito” em momentos de crise em que é preciso sair de Porto Alegre.

“Hoje não temos isso. É preciso uma parte no meio para auxiliar. Precisamos pensar e estamos trabalhando nisso na duplicação do caminho do meio. Isso ajudaria a dar um alívio”, projeta.

Vias internas seguraram bem

Na avaliação do professor de Mobilidade Urbana do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Ufrgs, Julio Celso Vargas, internamente, Porto Alegre suportou bem os bloqueios causados pelo nível das águas do Guaíba.

“Não se teve grandes dificuldades nas ruas internas. O sistema radial ficou com poucas partes na água e respondeu bem. Claro, engarrafa um pouco, tem partes escuras e sem sinaleira, mas não colapsou. Caso acontecesse algo na Ipiranga, por exemplo, seria horrível”, explicou.

O professor comenta sobre um dos problemas que identificou em meio a crise no Estado: a “excessiva dependência do modal rodoviário”.

“Somos muito dependentes. Não temos um modelo ferroviário e até mesmo fluvial. Isso é uma camada do nosso despreparo e da nossa baixa resiliência para problemas climáticos. Não se buscam alternativas. Sempre tem que passar o carro”, finaliza.

Para ele, a solução para eventos futuros pode passar por “um sistema ferroviário elevado e um modelo fluvial conectando a cidade de maneira mais robusta”.

Fonte: Jornal Correio do Povo

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